alo, começo pelo inicio.
estou vivo, não ando a escrever porque não ando com muita vontade, escrever tinha sido giro mas acho que a partir de meio passou a vontade, aumentava as saudades e parecia-me perda de tempo.
agora estou a começar a minha ultima semanita aqui, tenho montes de coisas que provavelmente nem me vou conseguir lembrar de escrever todas, mas no geral tem sido bom.
alias tenho adorado.
confesso que acho que podia ter sido mais util se tivesse vindo num voluntariado melhor programado, talvez também pudesse ter sido mais pro-activo, talvez não sei, e sinceramente também não estou preocupado, porque eu tenho mostrado disponibilidade para ajudar sempre mais, e acho que no fim o que mais vai ficar tanto em mim como nos miudos aqui é a companhia e os estimulos que lhes possa dar e dou.
fazendo um recap rápido, desde janeiro quando começaram as aulas que tenho estado a ajudar no apoio aos estudos e ajudar o alberto a tentar ganhar alguns conceitos de programação e a brincar com o java, algo que tem sido mais dificil do que eu pensava.
durante a manhã são as crianças da 1ª à 5ª que têm apoio, porque têm aulas à tarde, no apoio o que se faz? basicamente ajudar com os trabalhos de casa e seguir das duvidas daí. o português dos miudos que chegam cá da primeira vez é miseravel e começando daí é só trabalho, seja para conseguir que eles leiam as coisas, entendam e por fim tentar fazê-los desenvolver um bocado mais do que só copiar o que vem no livro, livro que estes têm mas as turmas a partir do 8º os alunos não têm livro, o que é um pouco estranho.
portanto durante a tarde são as turmas da 6ª à 10ª que têm o apoio e é mais do mesmo.
sinceramente às vezes dou por mim a pensar como podem estes miudos passar de ano quando não sabem nada de nada, a falta de estimulos é gritante, e mesmo assim vê-se uma diferença dos miudos que já cá andem no centro à 2 ou 3 anos para os acabados de chegar, mas mesmo os acabados de chegar têm uma dificuldade de intrepretação de perguntas e textos, para não falar da matemática e coisas do género.
a matemática deve ser mesmo um mal geral do mundo, mas aqui vê-se coisas lindas, não vou falar por exemplo do quanto o alberto me consome a paciência a tentar fazer exercicios simples de programação como médias, divisões conversões e coisas do género, mas mesmo indo na rua e a um supermercado se percebe coisas lindas.
entra-se numa loja e vê-se os preços dos packs 10, exemplo pack 10 maços de cigarros por exemplo custa 3700 meticais, 1 maço custa 350 por exemplo... e não é feito com maldade é mesmo eles nem descorrerem que não tem qq vantagem comprar packs. quem fala de cigarros, vai desde latas de atum, pacotes de leite etc.
outro exemplo que se vê montes de vezes é, as recargas dos telemoveis, que aqui são compradas na rua, compra-se uma cena chamada um giro que pagas 100 meticais por exemplo e ficas com 100 meticais de crédito e oferece 40 sms.
ora alguns sitios fazem descontos nos giros do género
giro de 50 custa 49
giro de 100 custa 95
giro de 200 custa 195...
se fores aos gajos dizer que queres 2 giros de 100 os gajos dizem-te então leva antes um de 200 e depois lá tens tu de explicar, que 2 x 95 != 1 x 195... diferente e menor... isto acontece em quase tudo o que é promoções e coisas que tenho visto.
bem tirando a semana que tem sido a trabalhar tenho andado a passear também o mais que posso, já fui ao kruguer, já fui passar umas noites a maputo cidade para ver outro tipo de ambiente e também voltei a dar uma ida ao norte de moçambique onde aproveitei para tirar o meu curso de open water de mergulho :P
tenho também conhecido alguns portuguas e não só que andam por aqui, uns no inov contacto, outros a trabalhar e outros malta que anda a passear e fazer uns voluntariados. a isto tenho muito de agradecer uma amiga do meu primo que trabalha cá e foi altamente porque até me convidou para ir passar uns dias à casa dela em maputo e também a uma voluntária do porto que anda por cá num projecto de voluntariado da congregação da minha tia que me tem dado umas dicas e umas ideias muito altamente.
confesso que tenho um bocado de vontade de prolongar a minha estadia por cá, mas também tenho alguma vontade de ir para casa...
e pronto não falta assim tanto tempo são só 6 dias...
miguelito, ou como os putos daqui me chamam: micas, over and out...
ps: entretanto também já sei uma lista bem engraçada de palavras em ronga :D
quero ver se faço uma lista antes de me ir embora pq sei dizer mas não sei escrever e mesmo o dizer se perguntar a mesma palavra a 2 deles vão-me dizer duas maneiras diferentes de pronunciar.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
parte 8...
o primeiro post on the fly...
vim passar uns dias a maxixe que é uma cidade no distrito de Inhambane, um bocado mais a norte de maputo...
em maputo estava muita chova nos últimos dias, apesar de não estar frio, mas confere que aqui tem sido mesmo época das chuvas.
durante a viagem apanhamos uma estrada mesmo horrível, e o carro, que tinha a tracção avariada, estava a patinar por todos os lados. a estrada nacional está em obras por isso haviam uns 90 km feitos sobre chuva e lama, que para além de demorarem quase 2h a ser feitos, implicaram umas 10 paragens para limpar o vidro da frente do carro porque o limpa para-brisas avariou :P
assim que entramos no inhambane, que fica depois do distrito de maputo e gaza a chuva parou e tal como já me vinham dizendo no caminho aqui estava tudo um bocado seco e sem chuva. devido a isso o caminho começou a ficar um bocado mais fácil e lá fizemos os 450 km de maputo a maxixe.
já no distrito de inhambane, poucos kilometros no fim da "rua nacional" chegasse assim ao alto dum monte onde se tem uma das visões mais espetaculares que já tive aqui em moçambique.
é chamada baia de quissico, fica uns km antes de inharrime, estou a procurar uma foto no google mas não está fácil, depois meto uma das que tirei que pode não ser a melhor maneira de mostrar mas dá para ver qualquer coisa. mas a visão dos coqueiros e o oceano e lagoa lá ao fundo é mesmo espetacular... aquele oceano azulinho claro todo a convidar a um mergulho... muito bonito mesmo.
aqui para cima, que apesar de ser mais a norte, fica a bem menos de metade de moçambique, fica a meio caminho entre maputo e beira, que é o centro de moçambique.
mas dizia, aqui para cima a paisagem é muito mais de coqueiros e outras árvores que na zona de maputo com as mangueiras. mas é na mesma muito verde, apesar da falta de chuva que eles se queixam.
toda esta zona de moçambique, o distrito de inhambane tem praias espetaculares, algumas já vi, outras já ouvi falar, como a zona das ilhas de bazaruto, vilankulos, e mais outras que agora me foge o nome.
à chegada à casa dos padres em maxixe, vim cá para conhecer o polo da universidade que eles têm aqui. faz parte dum acordo entre a congregação deles e a universidade pedagógica que é uma universidade estatal para formar professores. voltando, à chegada encontrei a minha primeira distração... eles têm uma macaca em casa, não em casa, mas no jardim... apesar de ser relativamente engraçada, gosta muito de morder, a mim que não me conhece muito é tudo o que faz. não aleija porque os dentes são como os nossos, não são assim muito afiados, mas ela lá se diverte a mordiscar. chama-se vilma.
depois de chegar e brincar um pouco com a macaca estive a dar umas voltas pela cidade, a conhecer, fui também ao polo da universidade, e depois fui jantar e descansar que a viagem tinha sido algo cansativa.
no dia seguinte o programa prometia, ia-mos visitar uma praia que da qual a universidade ia comprar a conseção...
acordei todo bem disposto já de fato de banho vestido e tudo, confesso que essa boa disposição deu lugar a muitas idéias, quando descobri que apesar de pobre, tinha dinheiro para comprar uma conseção do género :P
isto sabendo que apesar de tudo estou pobre. mas passo a explicar, não se compra o terreno, o governo vende o direito ao espaço, por tempo indeterminado, ou seja até um dia nacionalizarem a coisa de novo, e só têm de se pagar a indemnização a quem usa os terrenos para cultivos... a congregação vai "comprar" um espaço de mais de 5 hectares que inclui uma praia só para eles... também quero :P
vão fazer um centro de retiros, com também um polo de investigação geográfico da universidade, ao mesmo tempo que construir um pequeno lodge para ir ajundado a financiar as coisas.
se a idéia de ir à praia agradava a viagem foi no mínimo engraçada, para mim pelo menos, o padre que ia ver a praia já não achou o mesmo, isto porque nunca lá chegamos, logo ainda não sei como ela é.
isto porque fomos com uma técnica do governo distrital para demarcar o terreno, levávamos o mecânico dos padres para conduzir o carro e depois disso teríamos de ir buscar "o líder" da comunidade envolvente da praia com quem se discute o pagamento das indemnizações .
até chegar a casa do líder já o carro tinha ficado atolado duas vezes. lá conseguimos continuar o caminho com ajuda de alguns "locais" que por lá andavam no meio das palhotas, e chegado a casa do lider estacionamos, e ficamos à espera dele.
quando ele chegou para ir-mos para a praia... o carro nada, não funciona, o mecânico/motorista dos padres abre o capô do carro e um dos fusíveis está derretido... nada que não se resolva, vai à bagageira do jipe, um pagero parecido com o galloper que "nós" tínhamos.
estava lá uma coluna dum rádio, ele rebenta o fio que ligava a coluna ao som e vai de tentar ligar isso nos fusíveis do carro. ele desenrascado é, mas também muito optimista e na minha opinião algo incompetente... os carros estão sempre com problemas aqui, para quem tem um motorista/mecânico não é muito bom sinal.
depois o carro tem duas baterias, interligadas entre elas, porque ele diz que é mais seguro... o meu sempre funcionou bem só com uma mas pronto.
isto continua num troca fios dum lado pro outro, empurra daqui empurra dali a tentar meter o carro a funcionar e nada.
tivemos de ligar a pedir ajuda de outro mecânico amigo dos padres.
enquanto ele chegava e não chegava, passaram umas 3h nas quais empurramos o carro dum lado pro outro com pouco sucesso, por empurramos entendesse nós que estávamos no carro (4pessoas, o líder e malta lá da aldeia) éramos uns 10 que entretanto ali se juntaram.
um desses que o líder chamou, era um rapazito duns 15 anos, chamado félix, que durante o tempo que esperávamos, e a primeira vez que dou por ele, está o rapazito na descontra a subir a um coqueiro... em menos de 2 minutos subiu lá a cima e foi buscar 4 côcos, na altura não tinha percebido, mas passado uns minutos ia ter o prazer de beber a minha primeira água de côco à lá brasil, e ainda por cima acabado de ir buscar à árvore.
tinha sido o líder que tinha dito ao puto para ir lá buscar, tudo numa de bons costumes de saber receber.
4 côcos um para cada um de nós os visitantes, eu, o padre, a senhora da câmara e o nosso motorista.
a água de côco não é assim grande coisa, pelo menos não gostei nada de especial, mas já estava a morrer de sede e soube muito bem mesmo.
depois disso o puto com o bocado de casca que sacou de cada um dos côcos e a sua catana, faz uma colher para cada um e abre os côcos ao meio para comermos o interior... e isto sim soube bem pra caraças... até porque já estava a ficar com fome.
bem passado umas horitas lá apareceu depois o outro mecânico, mais um amigo dele que era o antigo mecânico dos padres, numa mitsubishi l200 que trazia uns 20 gajos na parte de trás da pickup. também eles, os dois que vinham em nosso auxilio tinham ficado presos e usaram as 20 pessoas como peso para o carro andar melhor :P
arranjaram o carro, mudaram lá uns circuitos na bateria e estávamos a caminho de casa... ou pelo menos assim parecia, já não ia-mos à praia que o carro não estava em condições.
o estávamos a caminho de casa é porque o carro no caminho de volta ainda avariou umas 10 vezes. só ficou resolvido o problema quando o outro mecânico veio e desfez aquele circuito ridiculo das duas baterias e meteu só uma....
bem depois foi dormir e hoje cá estamos a ver o que o dia reserva... acho que "tenho" de ir ajudar na universidade a ver se os ajudo a fazer uma página para a universidade.
latter ;)
ps: encontrei finalmente no google alguns links do que procurava +- ficam aí pelo meio do texto.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
... parte 7
bem começo depois de uma ausência um bocado maior, a ausência vai aumentando à medida que vai passando o tempo porque há menos vontade de escrever um bocado por haver também menos novidades.
dizia, começo por falar do natal e ano novo... com calor
é deveras estranho, o meu traje de missa de natal, foi uns calções e uma t-shirt, da grande fcul, :P
parece não só o estar longe da familia e amigos por esta altura, que o natal e ano novo nem passa, vou fazer a festa quando chegar aí. o tempo passa devéras rápido e parecendo que não este ano foi também já o fim da 1ª década do século XXI.
mas pronto talvez devido a estar longe de portugal, num clima diferente e isso, o natal nem passou, o mesmo para o ano novo.
confesso que nunca fui grande fã de natal, gosto obviamente e é uma festa gira, mas com o passar dos anos cada vez lhe acho menos significado, já quase se resume só a prendas, que confesso a maior parte delas nem são coisas que preciso, as prendas que mais gosto são quase sempre as que ofereço a mim mesmo.
aqui é completamente diferente, não recebi qualquer prenda no dia 24, no dia 25 estive com a minha tia a almoçar e ela e as "irmãs" dela deram-me uma caneta e um elefante de pau preto, mas sinceramente nem senti falta de prendas, principalmente depois de ver a tristeza dos miudos aqui no centro na noite de 24, alguns estavam felizes e tentavam estar, outros sendo isto uma festa de familia e eles não tendo familia que não uns aos outros, acabam por estar mais tristes nestas alturas, o que é normal acho eu.
o mais estranho do natal foi o facto de nem sentir especial saudade dele mesmo, custou muito mais a nível de saudades nas primeiras duas semanas cá do que no resto, obviamente as saudades de algumas pessoas vão aumentando, mas não era o natal que me fazia voltar mais cedo certamente, muito menos a passagem de ano.
da passagem de ano então menos saudades ainda, não foi nada de especial aqui no centro. a maior parte das crianças de cá foi para casa dia 31 de dezembro, para tios, ou alguma familia que tenham, outros só mesmo para alguém que tome conta deles, mas perto da zona de onde são. ficaram só 7 crianças.
então dia 31, jantamos mais tarde (22h) ficou-se acordado até às 00h e vimos uns 5 foguetes de artificio em marracuene.
depois disso fui dar uma volta com os que cá ficaram de carro aqui pelas redondezas... já tinha, e continuo a ter, muitas saudades de conduzir... tenho saudades do meu carro e de poder deslocar-me livremente dum lado pro outro.
mas no dia 31 o irmão deixou-me levar o carro dele para uma volta, um jipe de 2 lugares, e levar os miudos também só para se divertirem um bocado.
normalmente a passagem de ano, pelo menos para mim, por muito divertidas as festas que estamos sejam, acabo por ficar sempre com a sensação que são sempre demasiado.
acaba sempre por se fazer alguns balanços dos anos que passam, não podemos estar com todas as pessoas que queremos e depois acaba por haver quase sempre uma ideia que tem de ser festa só porque é dia 31 e às vezes a vontade é bastante reduziada. não se sente sempre, obviamente, isso, mas pelo menos às vezes tenho essa sensação, mas se calhar sou só eu.
desta vez o ponto alto acho que foi mesmo o facto de ter ido conduzir e matar saudades da estrada, mesmo que seja do lado errado...
por outro lado o balanço de 2009 é estranhamento positivo... talvez seja do meu estado de espirito, mas fartei-me de fazer coisas em 2009 que dificilmente repetirei, tenho viajado bastante, trabalhado pouco, algo que vai ter de mudar quando voltar a lisboa, e vai custar um bocadinho... mas tenho fé para 2010, não fiz grandes resuloções, raramente faço, não pedi desejos, só sei que me quero divertir quanto poder, quando poder e quando quiser, vai ser um ano bom também, nalgumas coisas certamente melhor que 2009. espero que para vocês também, que tenham o dobro do que me desejam :D
dia 1 fui a maputo, onde consegui finalmente ir um bocadinho ao msn/facebook,etc matar saudades...
fui a maputo porque a minha tia faz anos dia 1 de janeiro, não é a primeira vez na minha vida, mas é das primeiras que estou presente no seu aniversário, o que é engraçado e por si só um dado marcante para 2010, acaba por ser sempre um membro da familia que não está na maior parte das festas, desta vez esteve em quase todas e com a atenção quase total... até é justo assim :)
fiquei em maputo dia 1, andei a passear pela zona mais central, é bonita a cidade, tem algum lixo e trabalho por fazer, mas a zona mais central e mais portuguesa, que na verdade é também a zona mais rica, está bastante gira e a ser arranjada, tem um jardim muito bonito com vista para o oceano no alto duma colina sobre o clube nautico bastante giro.
no dia 2 fomos à reserva especial de maputo...
daqui a 5 anos se tudo correr bem diria que é um sitio a não perder.
é uma espécie de kruger park, para já com menos espécies, mas segundo me disseram pessoas que já foram ao kruger com mais tipos de vegetação e mais bonito.
é mais pequeno, apesar de ser grande, mas é muito verde, tem muita vegetação e tem a coisa assim mais espetacular, principalmente porque não esperava, que é ir ter a uma praia, enorme e linda.
têm muito trabalho pela frente, precisa mais caminho e melhores, mais espécies, mais miradouros, etc, mas tem material para ser algo muito muito bom... e aquela praia está mesmo a pedir um investimento turistico à séria... e parece que o ministro do turismo deles é bom e não anda a dormir.
confesso que começo a ficar fã do país... acho que não era capaz de viver cá para sempre, até porque adoro portugal, mas ia ter demasiada saudade das pessoas que tinha de deixar desse lado do mundo, mas existem aqui muitas coisas para fazer e acho que o pais tem potêncial, então a nível de turismo... é como portugal, como uma costa tão grande, tanta vegetação, tanto animal selvagem e tanto espaço, há muito por onde crescer... haja dinheiro... pode ser que os dirigentes comecem a roubar só metade do que roubam e investir o resto, vai compensar.
depois à vinda para casa estive há conversa com uma senhora, que se apresentou como mamã guilhermina :)
mamã disse ela, apesar de já ser avó, mas como em qualquer lado, as mulheres gostam mais de dar a ideia que ainda não são velhas :P
era muito simpática e dizia ela, que gostava muito de falar, eu tinha falado com ela enquanto esperava o machimbombo e quando entrei e a sentar-me num lugar e ela chamou-me para ir para o pé dela para conversar.
dizia ela que gostava muito de conversar fazia bem ao espirito. falava bom português a senhora, contou-me lá a história da sua vida, tem 6 filhos, todos estudaram pelo menos até à 12ª e já tem 5 netos.
é professora, desde os tempos do colonialismo, do ensino primário, e tal como todos os professores do mundo suponho as queixas são todas iguais só variam em questão dos números...
queixa-se das evoluções na carreira, mais em cunha que em competência e que isso não motiva...
queixa-se do número de alunos na sala de aula, 90 por professor, não motiva isso também diz ela.
queixa-se da passagem automática dos alunos, o que também acontece cá e eu acho mal, tanto cá como aí...
etc.
era de inharrime ela, uma cidade no distrito de inhambane mas já está há mais de 35 anos em maputo a trabalhar.
digo isto do inharrime porque se tudo correr bem, amanhã vou passar por lá a caminho de maxixe onde vou ficar uns dias a passear.
isto com os miúdos a irem de férias ficou a seca total, como eles descamsam muito tem alturas em que não se vê ninguém e não há mesmo ninguém com quem falar sequer.
para ajudar à seca a energia continua a faltar bué, e apesar de estar calor, continua a estar em época de chuvas, o que faz com que chova sem parar desde ontem, para não variar foi a altura que eu escolhi para lavar a roupa que decidiu chover, parece que tenho acertado quase sempre, lavo a roupa e ficam uns dias de chuva quente...
mas dizia que estive a falar com a senhora e ela teve a dar-me uns pontos de vista interessantes sobre, o português como lingua nacional, é de facto importante, não por ser português, mas porque permite que exista uma base para todos se entenderem, falam-se mais de 20 dialectos diferentes no país... e não se podia escolher um dialecto porque isso iria quase de certeza gerar confusão.
ela também gostava de ver os dialectos em si a serem estudados, porque a maior parte deles são linguas faladas, que nem têm bases gramaticais e escritas o que fica complicado o seu estudo e percepção para quem mesmo falando, no caso dela, não consiga por exemplo escrever coisas em ronga, nem ler, quase ninguém que ande por aqui consegue. todos falam mas ninguém escreve e lê.
outra das coisas que fiquei agradavelmente surpreendido é o facto dos livros na primária serem gratuitos prós alunos.
mas ela queixa-se e com razão talvez que deviam partir o livro em 3 bocados, um por trimestre, isto porque os alunos perdem muito os livros logo ao fim de 2 ou 3 semanas e depois passam o resto do ano sem livro, e isto é chato porque não existem livros a vender, depois de perder um não há mais.
bem fico-me por aqui, mas sem antes dizer, que quase me esquecia, que fui no tempo entre o natal e ano novo, num dia à Swazilândia :)
fui por uma zona chamada boane, que é bem bonita em termos de paisagens, passei numa barragem que abastece de água e energia a zona de maputo, a barragem dos pequenos libombos, fui visitar a casa do gaiato lá perto e depois fui até à fronteira da Swazilândia só para meter lá o pé e para ver a paisagem que é de facto muito variada e bonita.
prá próxima há mais...
beijinhos e abraços.
agora só devo voltar a escrever quando voltar de maxixe.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
... parte 6
bem não ando muito escritor, mais que a vontade de escrever que não é muita, a culpa tem sido do muito calor, que faz o estar sentado em frente ao computador um martírio mesmo grande, como também do facto de achar que as coisas só por palavras não terem assim grande impacto descritivo.
é que ficam sempre montes de coisas por contar e explicar e é meio frustrante.
ando aqui com umas ideias de fazer uns vídeos de certas coisas, mas depois só os posso meter online quando chegar a Lisboa, o mesmo com as fotos, que vou pondo algumas no facebook, mas não tenho tempo/paciência para replicar para aqui.
uma das coisas que não dá para descrever é a felicidade que as crianças têm a mexer nos "nossos" cabelos, mas não só nos cabelos como nos pêlos das pernas. é assim uma cena um bocado wierd quando se chega e passado um bocado de conversa para ganharem confiança os miúdos se decidem lançar num ataque aos cabelos...
a 1ª vez que me aconteceu foi numa coisa que eles têm aqui na paroquia de marracuene para entreter as crianças nas tardes de verão.
chama-se tardes de alegria, que são 3 semanas, onde basicamente se arranja umas actividades para as crianças se divertirem, do género, cantar, dançar, jogar à bola, etc.
eram 3 semanas temáticas cada uma com um tema sobre os direitos das crianças, a 1ª era o direito a ter uma família, a 2ª era ter direito a comer, a 3ª era ter direito a brincar.
bem continuando, estava lá a assistir aos miúdos a brincar, um concurso de dança neste caso, e estava sentado ao lado duns miúdos a conversar com um deles, mais naquela do como é que te chamas, etc.
ele estava a falar comigo e a passado um minuto assim sem dizer nada de estar só a olhar para mim, decide começar a mexer-me nos pêlos das pernas, normalmente o calor aqui é tanto que ando sempre de calções ou bermudas.
achei assim um bocado estranho mas o miúdo estava-se a rir eu ri-me também para ele e siga...
no dia seguinte também na mesma cena das tardes de alegria, o mesmo miúdo estava lá numa espécie de coreto, uma espécie de plataforma redonda com um muro a toda a volta e um tecto de palha que está destruído. ele estava sentado no muro, disse-me um adeus muito efusivo e eu aproximei-me dele só para dizer olá.
cheguei lá estava a dizer-lhe olá e aos amigos dele e encostei-me ao mundo para ficar a olhar para o resto dos miúdos que andavam por lá a correr e a saltar.
passado uns segundos ele com a maior das felicidades do mundo, e também o maior dos sorrisos, decide lançar-se num ataque aos meus cabelos, bem com as duas mãos e braços abertos... como já me tinham falado de tal coisa, quando isto me aconteceu comecei-me a rir bué, ia-me desmanchando a rir, mas estava a tentar controlar a coisa. quando eu me começo a rir, os amigos dele que estavam por lá ao lado acharam que se eu me estava a rir tudo bem e decidem ir todos mexer no meu cabelo... cena wierd, estavam lá umas 6 ou 7 crianças a mexer-me no cabelo... não me estava a fazer muita confusão mas também não é nada muito confortável, mas antes que aquilo começasse a tomar circunstâncias drásticas, do género uns 20 miúdos a amontoarem-se para andar a mexer no teu cabelo, comecei a dispersa-los, mas a rir-me e a dizer para eles irem para as actividades, jogar à bola, correr, dançar, saltar, etc.
para já que sendo o único branco já sou por norma o centro das atenções, não preciso de ainda mais cenas para gerar confusão e é suposto eles estarem ali para se divertirem uns com os outros.
mas pronto é mesmo uma diversão enorme para eles mexer nos cabelos, e confesso que eu também me divirto às vezes a mexer nos deles, parece assim uma espécie de esponja...
não houve dia que eu fosse lá à cena das tardes que passado um bocado de lhes dizer uns olás, como te chamas, etc, não houvesse um ou outro que não começa-se a mexer no cabelo. acaba por ser uma coisa que nos habituamos. e enquanto são 2 ou 3 de cada vez não é nada demais.
a parte engraçada é que isto fez com que cada vez que eu atravesso ali uma zona de quem vem da vila para o centro, antes de chegar na igreja, passo assim por uma rua interior mesmo no meio do bairro, e não tem dia que eu passe lá pelas 6 ou 7, quando venho da piscina à tarde, que não tenha 2 ou 3 miúdos a dizer: "olá Miguel, olá..." a maior parte deles eu nem me lembro de os ver lá, mas diz-se sempre olá e sorri-se que eles ficam todos contentes, mais contentes ficam se souberes o nome deles.
é divertido, e tem piada que eles fixam mesmo as cenas, o miúdo da cena dos pelos das pernas, o Xandino, não sei se se escreve assim, a das primeiras coisas que me perguntou foi, "o lucas?" ao que eu respondi, não sei, eu não conheço o Lucas, e ele disse-me pois foi para longe foi para a Itália, vim a descobrir que o Lucas era um jovem italiano que esteve cá, mais ou menos como eu, há uns 2 anos atrás, o Xandino deve ter uns 6 anos, logo teria uns 4 na altura mas ainda se lembra dele...
para além das tardes de alegria outras das coisas engraçadas que aconteceu foi a ida à praia de Macaneta, onde para não variar apanhei um dos maiores escaldões como já não apanhava há muito, felizmente nas costas não foi muito, foi mais na cara e orelhas. obviamente esqueci-me de trazer creme protector.
mas começa-mos por ir para a praia, teoricamente às 8 da manhã, ia com o conjunto dos monitores das tardes de alegria, um deles perguntou-me se eu queria ir com eles e eu disse logo que sim... praia bora...
portanto às 8 lá estava eu... eles herdaram o belo costume português de chegar atrasado, o nosso transporte só chegou às 9 e tal.
éramos 30 e ia-mos todos num carro, na parte de trás duma pickup... como para ir até à praia são uns kilometros e tem de se atravessar o batelão, que é um barco +- quadrado que leva a malta dum lado ao outro do rio.
como para ir até ao rio dá para ir a pé, eu e mais alguns fomos a pé, porque a carrinha estava demasiado cheia.
depois de esperar algum tempo para atravessar, porque faz filas que são muitos carros a querer passar e só cabem 5 a 6 de cada vez.
atravessamos e chegando ao outro lado reparamos que uma rapariga tinha ficado para trás, tínhamos de esperar que o barco fosse de novo lá e voltasse... que ia levar uns 30 minutos pelo menos. aqui tudo é muito muito lento...
o condutor do carro disse que já que éramos muitos ele ia levando as raparigas 1º... eu sinceramente ainda disse, é melhor não, ou na brincadeira disse para ele levar alguns rapazes e algumas raparigas, do género, e disse mesmo isto, se ele leva as gajas todas já não volta...
acabaram por ir 2 rapazes com as raparigas e ficamos uns 10 rapazes para trás e duas raparigas, a que estava ainda a esperar o barco e outra que não foi no carro porque não foi.
a estrada para a praia é muito má, mas ao fim de esperar-mos quase uns 10 minutos depois do barco chegar, decidimos ir a caminho e apanhar a boleia algures quando tivessem no percurso de regresso, ao fim de andar-mos bem mais de metade do caminho, quase 1h, aparece o nosso transporte, tinha ficado lá à espera de ter gente para trazer a carrinha cheia até ao barco... ainda ia ao barco descarregar e depois voltar... conclusão andamos o caminho até à praia quase todo, que são 7km... chegámos à praia, ainda depois de andar um terço do caminho +- de carro na boleia, pelas 12h+-
sinceramente se eu soubesse o que aí vinha no tempo que fomos de carro tinha ido o resto a pé, é que a estrada é toda de terra batida e aos buracos, ir no pickup sentado de lado na caixa com tanto solavanco fiquei com umas dores no rabo que nem vos conto...
mas chegado à praia tudo passou, para já porque assim que começamos a subir a duna, que dá para a praia, que tem uns arbusto, começo a ouvir um barulho bué estranho nos arbustos, eram macacos... existem macacos na praia, mas não se deixam muito bem ver muito menos chegar perto, fogem logo para o meu dos arbustos... mas pronto tem macacos a praia :P
e depois a praia é muito bonita, nada fora de normal no entanto mas bonita principalmente porque é muito vasta e não tem ainda muitas coisas, só algumas consturçõezinhas duns sul africanos.
nota: existem praias mais para norte de moçambique totalmente pertencentes a sul africanos, ao que eles chamam boers, não sei se se escreve assim, ainda com sinais e cenas a dizer "no blacks"... eu perguntei como é que o governo de moçambique aceita isso e os gajos só me souberam dizer porque sim, os gajos, seja os rapazes que estavam comigo na praia de macaneta, que eram eles que me estavam a contar a cena, mas o meu avô também já testemunhou tal coisa, eu vou tentar ver se lá vou qualquer dia.
bem voltando à praia, rio dum lado, oceano do outro, gira.
os padres tinham-me falado que a água era fria, portanto assim que cheguei à praia fui ao banho que estava cheio de calor, mas fiquei naquela... se é fria é melhor mergulhar logo para não estranhar muito... vou logo a correr entro dentro de água e semi desilusão... a água fez-me lembrar a Tunísia... super quente... e ainda por cima bué salgada... mas estava-se muito bem... tive a maior parte do tempo todo até ao almoço, que deve ter sido 1h +- na minha diversão areia/água/areia outra vez.
a areia é assim meio grossa mas não muito, é difícil de explicar, não é totalmente fininha como quem conhece no Baleal por exemplo, mas também não é assim como se fosse a da Ericeira...
a parte mais gira do ir à praia, foi 1º o facto de comprovar que metade das gentes aqui não sabe nadar, dos que foram comigo só 5 rapazes sabiam e nenhuma das raparigas sabia nadar, o que é estranho tendo uma praia tão boa, e rio, tão "perto".
mas a parte gira é a roupa que elas levam para a praia, as raparigas, os rapazes é fatos de banho normais, elas não, algumas têm fatos de banho, bikinis normais, mas mesmo essas e as que não têm, vai tudo ao banho de mini-saias, tops, e aquelas saias de pano... mesmo tendo os fatos de banho vestidos por baixo... que cena estranha. já tinha achado estranho, quando os miúdos aqui do centro iam à piscina, na volta virem sempre com os fatos de banho todos molhados por baixo da roupa, mas achei que era só da pressa de ir apanhar o machimbombo... já me fartei de gozar com eles mas continua a acontecer, por isso acabei por já desistir de comentar...
para além da roupa também tem alguma piada vê-los a banharem-se.
a praia é daquelas que faz um fundão logo quando se mergulha, ao fim de 2 ou 3 metros deixa-se de ter pé, e depois tem umas micro ondas tipo algarve, a rebentação é mesmo em cima da areia. então eles estão lá todos junta à areia, e atiram-se contra a onda de frente e depois levantam-se... faz-me lembrar os putos na praia, só que em tamanho grande.
é giro.
bem há montes mais de coisas que eu devia dizer ou podia escrever mas já estou cansado e a suar em bica...
a ver se não me esqueço de falar sobre uma escritora de cá, Paulina Chiziane, que ando a ler umas cenas dela que são engraçadas, para ajudar a perceber mais um bocado as coisas de cá, cultura e isso, já li dois livros, vou no terceiro e tenho ainda o quarto para ler.
outra das cenas tem a ver com a sida, vi um filme, "Beat The Drum", sul africano, que fala sobre a sida e o problema dos mitos à volta dela, é um filme um bocado chato, porque percebe-se mesmo que infelizmente por cá as coisas são mesmo como nos filmes, mas o pior é que não acabam bem, desde professores a trocar notas de alunas por sexo, aconteceu aqui em marracuene no ano passado, 80% dos alunos chumbaram, porque recusaram pagar aos professores para passar, o director da escola é que foi mudado de escola, os professores não lhes acontece nada. aos professores não acontece nada óbvio. então o negocio aqui era, alunas sexo e passavam, os rapazes, pagavam... houve montes de queixas e coisas do género e lá voltaram a rever exames e isso e depois passaram uns quantos.
bem mas estava a dizer, desde casos desses, a mitos como se os homens tiverem relações com virgens curam-se da Sida, etc... todas essas cenas de curandeiros e merdas do género existem mesmo... no outro dia estava a dar no telejornal o caso dum rapaz de 15 anos, que estava em estado grave internado porque tinham-lhe retirado os órgãos genitais para usar em rituais de magia... nice... isto foi numa província mais para norte de Moçambique, mas mesmo assim...
bem eu depois continuo que agora estou farto...
deixo só aqui mais uma nota sobre a marca de preservativos de nome jeito e alguns dos seus slogans publicitários que se vêm na rua.
pensa direito, anda com jeito.
quem tem jeito, dá sempre.
é que ficam sempre montes de coisas por contar e explicar e é meio frustrante.
ando aqui com umas ideias de fazer uns vídeos de certas coisas, mas depois só os posso meter online quando chegar a Lisboa, o mesmo com as fotos, que vou pondo algumas no facebook, mas não tenho tempo/paciência para replicar para aqui.
uma das coisas que não dá para descrever é a felicidade que as crianças têm a mexer nos "nossos" cabelos, mas não só nos cabelos como nos pêlos das pernas. é assim uma cena um bocado wierd quando se chega e passado um bocado de conversa para ganharem confiança os miúdos se decidem lançar num ataque aos cabelos...
a 1ª vez que me aconteceu foi numa coisa que eles têm aqui na paroquia de marracuene para entreter as crianças nas tardes de verão.
chama-se tardes de alegria, que são 3 semanas, onde basicamente se arranja umas actividades para as crianças se divertirem, do género, cantar, dançar, jogar à bola, etc.
eram 3 semanas temáticas cada uma com um tema sobre os direitos das crianças, a 1ª era o direito a ter uma família, a 2ª era ter direito a comer, a 3ª era ter direito a brincar.
bem continuando, estava lá a assistir aos miúdos a brincar, um concurso de dança neste caso, e estava sentado ao lado duns miúdos a conversar com um deles, mais naquela do como é que te chamas, etc.
ele estava a falar comigo e a passado um minuto assim sem dizer nada de estar só a olhar para mim, decide começar a mexer-me nos pêlos das pernas, normalmente o calor aqui é tanto que ando sempre de calções ou bermudas.
achei assim um bocado estranho mas o miúdo estava-se a rir eu ri-me também para ele e siga...
no dia seguinte também na mesma cena das tardes de alegria, o mesmo miúdo estava lá numa espécie de coreto, uma espécie de plataforma redonda com um muro a toda a volta e um tecto de palha que está destruído. ele estava sentado no muro, disse-me um adeus muito efusivo e eu aproximei-me dele só para dizer olá.
cheguei lá estava a dizer-lhe olá e aos amigos dele e encostei-me ao mundo para ficar a olhar para o resto dos miúdos que andavam por lá a correr e a saltar.
passado uns segundos ele com a maior das felicidades do mundo, e também o maior dos sorrisos, decide lançar-se num ataque aos meus cabelos, bem com as duas mãos e braços abertos... como já me tinham falado de tal coisa, quando isto me aconteceu comecei-me a rir bué, ia-me desmanchando a rir, mas estava a tentar controlar a coisa. quando eu me começo a rir, os amigos dele que estavam por lá ao lado acharam que se eu me estava a rir tudo bem e decidem ir todos mexer no meu cabelo... cena wierd, estavam lá umas 6 ou 7 crianças a mexer-me no cabelo... não me estava a fazer muita confusão mas também não é nada muito confortável, mas antes que aquilo começasse a tomar circunstâncias drásticas, do género uns 20 miúdos a amontoarem-se para andar a mexer no teu cabelo, comecei a dispersa-los, mas a rir-me e a dizer para eles irem para as actividades, jogar à bola, correr, dançar, saltar, etc.
para já que sendo o único branco já sou por norma o centro das atenções, não preciso de ainda mais cenas para gerar confusão e é suposto eles estarem ali para se divertirem uns com os outros.
mas pronto é mesmo uma diversão enorme para eles mexer nos cabelos, e confesso que eu também me divirto às vezes a mexer nos deles, parece assim uma espécie de esponja...
não houve dia que eu fosse lá à cena das tardes que passado um bocado de lhes dizer uns olás, como te chamas, etc, não houvesse um ou outro que não começa-se a mexer no cabelo. acaba por ser uma coisa que nos habituamos. e enquanto são 2 ou 3 de cada vez não é nada demais.
a parte engraçada é que isto fez com que cada vez que eu atravesso ali uma zona de quem vem da vila para o centro, antes de chegar na igreja, passo assim por uma rua interior mesmo no meio do bairro, e não tem dia que eu passe lá pelas 6 ou 7, quando venho da piscina à tarde, que não tenha 2 ou 3 miúdos a dizer: "olá Miguel, olá..." a maior parte deles eu nem me lembro de os ver lá, mas diz-se sempre olá e sorri-se que eles ficam todos contentes, mais contentes ficam se souberes o nome deles.
é divertido, e tem piada que eles fixam mesmo as cenas, o miúdo da cena dos pelos das pernas, o Xandino, não sei se se escreve assim, a das primeiras coisas que me perguntou foi, "o lucas?" ao que eu respondi, não sei, eu não conheço o Lucas, e ele disse-me pois foi para longe foi para a Itália, vim a descobrir que o Lucas era um jovem italiano que esteve cá, mais ou menos como eu, há uns 2 anos atrás, o Xandino deve ter uns 6 anos, logo teria uns 4 na altura mas ainda se lembra dele...
para além das tardes de alegria outras das coisas engraçadas que aconteceu foi a ida à praia de Macaneta, onde para não variar apanhei um dos maiores escaldões como já não apanhava há muito, felizmente nas costas não foi muito, foi mais na cara e orelhas. obviamente esqueci-me de trazer creme protector.
mas começa-mos por ir para a praia, teoricamente às 8 da manhã, ia com o conjunto dos monitores das tardes de alegria, um deles perguntou-me se eu queria ir com eles e eu disse logo que sim... praia bora...
portanto às 8 lá estava eu... eles herdaram o belo costume português de chegar atrasado, o nosso transporte só chegou às 9 e tal.
éramos 30 e ia-mos todos num carro, na parte de trás duma pickup... como para ir até à praia são uns kilometros e tem de se atravessar o batelão, que é um barco +- quadrado que leva a malta dum lado ao outro do rio.
como para ir até ao rio dá para ir a pé, eu e mais alguns fomos a pé, porque a carrinha estava demasiado cheia.
depois de esperar algum tempo para atravessar, porque faz filas que são muitos carros a querer passar e só cabem 5 a 6 de cada vez.
atravessamos e chegando ao outro lado reparamos que uma rapariga tinha ficado para trás, tínhamos de esperar que o barco fosse de novo lá e voltasse... que ia levar uns 30 minutos pelo menos. aqui tudo é muito muito lento...
o condutor do carro disse que já que éramos muitos ele ia levando as raparigas 1º... eu sinceramente ainda disse, é melhor não, ou na brincadeira disse para ele levar alguns rapazes e algumas raparigas, do género, e disse mesmo isto, se ele leva as gajas todas já não volta...
acabaram por ir 2 rapazes com as raparigas e ficamos uns 10 rapazes para trás e duas raparigas, a que estava ainda a esperar o barco e outra que não foi no carro porque não foi.
a estrada para a praia é muito má, mas ao fim de esperar-mos quase uns 10 minutos depois do barco chegar, decidimos ir a caminho e apanhar a boleia algures quando tivessem no percurso de regresso, ao fim de andar-mos bem mais de metade do caminho, quase 1h, aparece o nosso transporte, tinha ficado lá à espera de ter gente para trazer a carrinha cheia até ao barco... ainda ia ao barco descarregar e depois voltar... conclusão andamos o caminho até à praia quase todo, que são 7km... chegámos à praia, ainda depois de andar um terço do caminho +- de carro na boleia, pelas 12h+-
sinceramente se eu soubesse o que aí vinha no tempo que fomos de carro tinha ido o resto a pé, é que a estrada é toda de terra batida e aos buracos, ir no pickup sentado de lado na caixa com tanto solavanco fiquei com umas dores no rabo que nem vos conto...
mas chegado à praia tudo passou, para já porque assim que começamos a subir a duna, que dá para a praia, que tem uns arbusto, começo a ouvir um barulho bué estranho nos arbustos, eram macacos... existem macacos na praia, mas não se deixam muito bem ver muito menos chegar perto, fogem logo para o meu dos arbustos... mas pronto tem macacos a praia :P
e depois a praia é muito bonita, nada fora de normal no entanto mas bonita principalmente porque é muito vasta e não tem ainda muitas coisas, só algumas consturçõezinhas duns sul africanos.
nota: existem praias mais para norte de moçambique totalmente pertencentes a sul africanos, ao que eles chamam boers, não sei se se escreve assim, ainda com sinais e cenas a dizer "no blacks"... eu perguntei como é que o governo de moçambique aceita isso e os gajos só me souberam dizer porque sim, os gajos, seja os rapazes que estavam comigo na praia de macaneta, que eram eles que me estavam a contar a cena, mas o meu avô também já testemunhou tal coisa, eu vou tentar ver se lá vou qualquer dia.
bem voltando à praia, rio dum lado, oceano do outro, gira.
os padres tinham-me falado que a água era fria, portanto assim que cheguei à praia fui ao banho que estava cheio de calor, mas fiquei naquela... se é fria é melhor mergulhar logo para não estranhar muito... vou logo a correr entro dentro de água e semi desilusão... a água fez-me lembrar a Tunísia... super quente... e ainda por cima bué salgada... mas estava-se muito bem... tive a maior parte do tempo todo até ao almoço, que deve ter sido 1h +- na minha diversão areia/água/areia outra vez.
a areia é assim meio grossa mas não muito, é difícil de explicar, não é totalmente fininha como quem conhece no Baleal por exemplo, mas também não é assim como se fosse a da Ericeira...
a parte mais gira do ir à praia, foi 1º o facto de comprovar que metade das gentes aqui não sabe nadar, dos que foram comigo só 5 rapazes sabiam e nenhuma das raparigas sabia nadar, o que é estranho tendo uma praia tão boa, e rio, tão "perto".
mas a parte gira é a roupa que elas levam para a praia, as raparigas, os rapazes é fatos de banho normais, elas não, algumas têm fatos de banho, bikinis normais, mas mesmo essas e as que não têm, vai tudo ao banho de mini-saias, tops, e aquelas saias de pano... mesmo tendo os fatos de banho vestidos por baixo... que cena estranha. já tinha achado estranho, quando os miúdos aqui do centro iam à piscina, na volta virem sempre com os fatos de banho todos molhados por baixo da roupa, mas achei que era só da pressa de ir apanhar o machimbombo... já me fartei de gozar com eles mas continua a acontecer, por isso acabei por já desistir de comentar...
para além da roupa também tem alguma piada vê-los a banharem-se.
a praia é daquelas que faz um fundão logo quando se mergulha, ao fim de 2 ou 3 metros deixa-se de ter pé, e depois tem umas micro ondas tipo algarve, a rebentação é mesmo em cima da areia. então eles estão lá todos junta à areia, e atiram-se contra a onda de frente e depois levantam-se... faz-me lembrar os putos na praia, só que em tamanho grande.
é giro.
bem há montes mais de coisas que eu devia dizer ou podia escrever mas já estou cansado e a suar em bica...
a ver se não me esqueço de falar sobre uma escritora de cá, Paulina Chiziane, que ando a ler umas cenas dela que são engraçadas, para ajudar a perceber mais um bocado as coisas de cá, cultura e isso, já li dois livros, vou no terceiro e tenho ainda o quarto para ler.
outra das cenas tem a ver com a sida, vi um filme, "Beat The Drum", sul africano, que fala sobre a sida e o problema dos mitos à volta dela, é um filme um bocado chato, porque percebe-se mesmo que infelizmente por cá as coisas são mesmo como nos filmes, mas o pior é que não acabam bem, desde professores a trocar notas de alunas por sexo, aconteceu aqui em marracuene no ano passado, 80% dos alunos chumbaram, porque recusaram pagar aos professores para passar, o director da escola é que foi mudado de escola, os professores não lhes acontece nada. aos professores não acontece nada óbvio. então o negocio aqui era, alunas sexo e passavam, os rapazes, pagavam... houve montes de queixas e coisas do género e lá voltaram a rever exames e isso e depois passaram uns quantos.
bem mas estava a dizer, desde casos desses, a mitos como se os homens tiverem relações com virgens curam-se da Sida, etc... todas essas cenas de curandeiros e merdas do género existem mesmo... no outro dia estava a dar no telejornal o caso dum rapaz de 15 anos, que estava em estado grave internado porque tinham-lhe retirado os órgãos genitais para usar em rituais de magia... nice... isto foi numa província mais para norte de Moçambique, mas mesmo assim...
bem eu depois continuo que agora estou farto...
deixo só aqui mais uma nota sobre a marca de preservativos de nome jeito e alguns dos seus slogans publicitários que se vêm na rua.
pensa direito, anda com jeito.
quem tem jeito, dá sempre.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
... parte 5
hoje acabei por ter algum tempo, especialmente porque chove e não fui à piscina por estar constipado, a ver se digo mais qualquer coisa...
vou começar pelos putos, e o seu pretoguês... é no mínimo horrível a maior parte das vezes não percebo quando falam entre eles porque falam em dialecto, mas mesmo quando falam em português não se percebe nada. eu farto-me de gozar com eles e digo sempre, vamos falar em língua nacional ok? eles não dizem que falam em português é língua nacional...
mas isto não teria grande problema não fosse a maior parte das vezes nas aulas do inglês eles não saberem minimamente as palavras portuguesas que uso o que querem dizer... tem sido complicado, tenho-os metido a ler 3 textos que arranjei num livro para eles irem melhorando mas talvez não sejam os mais adequados para a realidade daqui... vou sacar agora da net a letra do "we are the world" do michael jackson acho eu, porque eles são todos fãs dele...
são fãs ao ponto de acharem que me vão ensinar a dançar uma das músicas dele... tem sido a comédia eles a tentarem, e eu especialmente... já lhes tentei explicar que este branco não tem "os moves"...
bem continuando e indo falar um bocado de marracuene ainda e o crescimento de maputo.
maputo tem crescido imenso, obviamente tudo desordenado e sem qualquer condições como é mais ou menos normal e espectável... se nem em portugal temos ordenamento decente eles aqui também não têm.
mas teoricamente o governo deles anda a distribuir parcelas de terrenos nos arredores de maputo, assim a 50 ou 60km para ver se leva o pessoal a fugir um bocado do caos do centro da cidade.
depois o caos é para entrar na cidade com o transito, de marracuene a maputo que são uns 30 kms, são 2 horas de machimbombo.
como estava a dizer eles estão a distribuir parcelas ao pessoal que se candidatar, parcelas de 800m2... nada mau, se fosse de cá quem sabe :P
moçambique em si não tem muitas cidades, as que tem é tudo no litoral, as maiores é maputo e beira. de resto é uma imensidão de espaço para aproveitar... faz-me lembrar aquelas imagens de safaris que se vê com aquelas árvores meio secas, mas o terreno não é totalmente seco... só faltam as girafas na paisagem...
indo de novo a marracuene, hoje estou meio desconexo no raciocínio, isto faz-me lembrar um bocado vila franca de xira... obviamente não tem cidade, é uma vila com umas 20 casas e o resto é bairros de barracas à volta, mas muito poucas barracas...
faz-me lembrar vila franca por causa da distância a maputo e a distância de vila franca a lisboa, e o facto de ter o rio mesmo ao lado, a todo o lado. é uma imagem bem bonita por acaso.
continuo é sem ainda ter ido à praia, mas já fui ao outro lado do rio... e é mesmo outro mundo.
talvez por isto ser hemisfério sul, só por curiosidade é a 1ª vez que venho ao hemisfério sul e a primeira vez que vi o oceano indico, por isso check and check.
mas como dizia, isto é hemisfério sul, e talvez por isso, as cenas são ao contrário... aqui a margem sul é claramente a parte mais rica da vila, que é o lado onde eu estou, passa-se o rio, de barco que não tem outra maneira, nos arredores não há qualquer ponte, ao contrário de vila franca, e a margem norte é o deserto... não há energia sequer. os habitantes de lá têm um bocado de culpa porque não querem uma ponte pois têm medo dos roubos de gado que iam acontecer dizem eles se houvesse ponte.
fazendo um pequeno apanhado, maputo fica numa espécie de baia, tendo 2 rios a desaguar lá, não sei o nome agora dos rios.
portanto a sul existe um que desagua e depois a norte temos o outro que é o que passa aqui em marracuene e vai desaguar um pouco a cima de maputo depois duma coisa chamada costa do sul que é a 24 julho / marginal cá do sitio a caminho de cascais :P
portanto atravessando o rio para norte, estamos no outro lado do rio e o outro lado do mundo. foi a primeira vez que vi aquelas casas mesmo de palha à lá filme.
peixe a secar nos estendais, pessoal pé descalço e a olhar pros carros como quem olha para uma nave ou um avião...
fui lá a primeira vez porque um dos padres ia dar uma missa lá a uma comunidade e eu pedi para ir com ele, tive de acordar bué cedo, tipo, às 6.30... são quase 1h de caminho ou mais.
anda-se mesmo um bocado e a estrada não é grande coisa é um cenário assim quase à rali mas divertido.
depois chegamos ao sitio, do qual não tenho mesmo imagens por agora, mas vou lá voltar nem que seja para tirar umas fotos.
chegando lá, 1º o sino a tocar, é uma lata pendurada numa árvore e o gajo bate-lhe com um pau.
depois começa a missa, não foi logo mas adiante, devo confessar que já não vou à igreja quase nunca, quando era miúdo ia às vezes, entretanto deixou de fazer sentido para mim, mas pronto estando aqui e sendo isto uma organização católica o mínimo a fazer é respeitar.
a missa começa e surpresa minha, não é em português, porque eles não falam português, como ia comprovar depois.
começa a missa e crianças e mulheres para um lado sentadas no chão sobre umas esteiras e homens, e eu, para outro sentar num banco... nice descriminação socialmente aceite, mais um check para a lista.
depois estava um grupo razoável de miúdos na missa, deviam estar umas 40 pessoas lá dentro, talvez uns 6 homens, 10 ou 11 mulheres o resto crianças.
epa e a missa é algo completamente diferente, para além de terem músicas mesmo com tambores e isso, à pessoal que se levanta, umas velhotas e um velhote, a meio da missa e vai fazer uma espécie de danças de chuva lá para o fundo da capelita... no meio das músicas que eles cantam... só visto mesmo.
estava a dizer, os miúdos, estavam quase todos a olhar para mim obviamente, este branco está perdido, e havia 2 ou 3 especialmente que olhavam e riam-se e desviavam o olhar, passei a missa quase toda a fazer essa espécie de jogo com eles, especialmente com 3 deles, o pedro um rapazito com 11 anos, que parecia-me a mim ter muito menos, talvez uns 7 ou 8, sou péssimo a avaliar idades, e duas miúdas mais pequenas, a adelaide e outra que não me disse o nome.
o meu objectivo era ver se conseguia meter os putos todos a sorrir-me só de olhar para eles e rir, tive uns 80% de aceitação :D
outro dos pormenores culturais engraçados, é os putos que andam ás cavalitas das mães e irmãos embrulhados nos trapos, que acho que se chamam capulanas.
é um meio de transporte engraçado e eles transportam assim tudo embrulhado às costas naquela espécie de lençol, mas é um bocado custoso ver umas crianças de 4 ou 5 anos a transportarem outras assim... e vêm-se mesmo muitos. aqui é mesmo filhos aos pontapés, 5 ou 6 para cada mulher... o pai não interessa qual é...
bem indo ao pedro, consegui falar um bocado com ele no fim da missa, dizia ele, a muito custo, porque nem percebeu a pergunta, que andava no 5º ano e tinha passado. como é que ele passou sem sequer entender o que eu digo, tendo que português é uma disciplina obrigatória não se sabe, mas siga.
falei com ele muito a custo consegui saber que se chamava pedro e tinha 11 anos, consegui também que me disse-se o nome da mais pequenina que era a adelaide, mas foi a amiga dela que me respondeu, só que depois fugiu a rir-se e não disse mais nada. o pedro no fim da missa e quando me estava a ir embora disse-me assim meio de fugida... "então até pro ano"... que nos meus ouvidos foi assim algo quase explosivo... fiquei um bocado emocionado mas nem sei explicar porquê, só que é complicado de explicar mesmo, mas ver aquela gente sem nada que a troco de nada estão disposto a trocar o maior dos sorrisos... adiante...
antes que me esqueça a adelaide tinha vestido um vestido daqueles que parece uma boneca princesas ou de carnaval de princesa... cor de rosa.
bem indo de volta para casa depois da missa, como costume local demos boleia a umas 3 ou 4 pessoas que iam para outra povoação, que na verdade deixamos assim um bocado no meio do nada, mas eram dali de perto.
quando deixamos essas pessoas, apareceram assim um grupo de miúdos a correr, a pedir boleia, falavam o dialecto por isso não os percebi muito bem, mas dava para ver que eles queriam vir a algum lado.
o padre falou com eles e com uma das mulheres que deixamos e ela disse para não os levarmos, eles não sabiam para onde queriam ir, depois disseram que só queriam ir para andar de carro... havia uns quantos que nunca tinham andado e só queriam mesmo andar. o padre disse que outro dia os levava, eu por mim obviamente tinha dado, mas compreendo a coisa e ele estava um bocado com pressa.
já me aconteceu o mesmo numa das voltas aqui de bicicleta pelas redondezas, miudinhos de 6 ou 7 anos que só queriam dar uma volta também... e lá vão todos contentes sentados no quadro da bicicleta por uns 2 ou 3 minutos.
à ida para a missa ainda, e voltando um bocado atrás, encontramos no meio da estrada, mesmo no meio, apesar da estrada não ser mais que um caminho de terra batida onde se anda devagar, um homenzinho sem pernas todo contente por nos ver.
o padre fez-me um recap rápido do porquê, então parece que o padre anterior que se tinha ido embora no dia antes para italia, depois de ter estado cá 9 anos, costuma levar-lhe farinha para dar aquele homem. ele era um jogador de futebol, jogava na 1ª divisão cá de moçambique e tudo, mas na guerra, perdeu as duas pernas. a guerra, e não sabia isto obviamente, passou-se sobretudo aqui nesta zona de marracuene, pois era a quase entrada para maputo pelo norte.
também foi uma coisa assim custosa de ver... o homem vive ali num bocado de chão com plástico no meio do nada...
bem mudando para algo mais engraçado...
fama show, ou o idolos cá do sitio...
tem sido a minha diversão de sábado à noite mais os miudos, eles vêm e eu vejo também.
o pessoal canta mal mas mal, mas todo o mundo se diverte, e tem mensagens a passar em rodapé de msgs que o pessoal manda tipo aqueles números do 3400...
para além dos erros de escrita dá para ver coisas lindas como os nomes e pessoas a enviarem mensagens para o marido, para o amante e para o filho do julio... isto tudo na mesma mensagem... muito à frente...
falando de telemóveis... uma das cenas what the fuck é que toda a gente tem telemóvel, qual portugal... prioridades obviamente...
o uso principal dos telemóveis é enviar pleases... que é os nossos call me, mas chamam-lhes pleases...
até naquela comunidade da missa no meio do nada, havia 3 pessoas que tinham telemóvel para falar com o padre a ver se vinha dar missa...
bem indo ao fama show, uma das cenas engraçadas, tem 2 gajas com nomes lindos, a grandiosa, de quem eu sou fã, e uma preta albina, que se chama argentina.
para além de cantar mal que doí, a argentina, apesar do juri amar a gaja... é a cena de ser albina... nunca tinha visto nenhum preto albino, alias albinos mesmo não devo ter visto mais de 2 ou 3, mas aqui há bués... mesmo mesmo muitos.
já vi uns 20 ou mais. é estranho o fenómeno...
outra das coisas que dá para ver assim a pontapé é mangas e mangueiras, a árvore das mangas.
nunca gostei de mangas, pois... aqui crescem em todo o lado e são tão mas tão boas... estou um fanático... como umas 2 ou 3 por dia. algumas mesmo acabadas de tirar das árvores :D e há mesmo árvores de manga em todo o lado.
é que são tão boas as mangas, e nada fibrosas como as que se compram nos supermercados, estou mesmo fã só de escrever está a dar-me vontade de ir apanhar uma e comer.
bem outra coisa das que me deixou mais emocionado quando me contaram a historia, e já fez algum tempo, foi na primeira vez que fui a casa da minha tia, mais o irmão responsável aqui do centro.
eles estavam a falar duns miudos, que vieram de mahotas, que é outro bairro dos arredores de maputo, onde a minha tia trabalhou durante anos e enviou aqui para o centro.
estavam a falar duma delas, que tal como estes 20 que aqui estão, os pais morreram de sida, a mãe pelo menos porque os pais alguns, como ela, não sabem sequer quem é o pai. ela tem cá 3 irmãos no centro e nenhum é do mesmo pai.
ok estavam a falar dela, e o facto dela e outros só terem ido para a escola quando chegaram ao centro, no caso dela com 14 anos...
mas chega ela com 14 anos, e esta foi a parte que me deixou assim meio... é o facto de ela não ter papeis de registo, ou seja não existe, ela e quase todos. teve de ir ser registada pelo irmão, e a questão que eu meti é, no caso dela sabiam o ano, os que não sabem, são registados com datas totalmente falsas, alguns até lhes tiram anos, para poderem entrar na escola devido aos problemas da idade.
no caso dela isso não aconteceu, mas o que me deixou um bocado emocionado, foi que sabiam o ano de nascimento dela, e o irmão chamou-a e disse-lhe que tinham da ir registar, ela não tem papeis porque não tem, a maior parte dos registos de nascimentos e isso desapareceu com a guerra. disse-lhe tinham da ir registar e sabiam o ano de nascimento dela.
o irmão virou-se para ela e disse, sabes o dia de anos, ela disse que não, então ele disse, olha estamos livres de "inventar" o dia que quiseres, não quero uma resposta agora, vai pensar bem e escolhe o dia que quiseres, dou alguma sugestão, o dia que chegaste aqui, o dia de anos da tua mãe, que sabiam, ou o dia da morte da tua mãe... eu a ouvir aquilo caiu-me tudo... pensar que é algo que tu sejas capaz de sugerir a uma criança, acabada de chegar a um sitio onde só conhece os meio irmãos, completamente sozinha. e mais wtf fico porque ela escolheu o dia que a mãe morreu, porque diz que é o dia que começou tudo de novo e é a ultima lembrança que tinha da mãe. é daquelas coisas que não se pensa muitas vezes mas se fica assim sem resposta...
bem numa nota de despedida assim mais positiva, nenhum dos putos daqui tem sida, não se sabe porquê mas não têm, no entanto o irmão diz que se um dia chegar um que tenha os aceita sem problemas, eles fazem-lhes os testes quando chegam mas não lhes dizem bem o que vão fazer, é só para controlo mesmo, há chegada dos miúdos pode acontecer bem terem.
bem por hoje já chega que tenho de ir apanhar a roupa antes que se molhe toda :P
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
... parte 4
segunda 7 de dezembro de 2009.
tenho andado um bocado com pouca vontade de escrever porque dá demasiado trabalho e está demasiado calor.
eu explico a parte do dar demasiado trabalho que tem também a ver com o pequeno "milagre" do ipod não funcionar.
a parte do calor fala por si.
depois de frio e chuva na primeira semana, tem estado um tempo bué inconstante.
fica muito calor, e no dias que não há completamente vento nenhum vem sempre uma grande chuvada à noite e uma ventania desgraçada.
com grandes trovoadas e tudo mas sempre com calor. já deixou de haver frio. só está ou sol, ou tempo meio encoberto ou a chover mas sempre com calor.
é um tempo um bocado estranho.
este tempo, ou pelo menos a chuva, causa com que aqui seja raro o dia que não falha a energia.
se começa a chover ou um pouco mais de vento ou tempo encoberto a energia vai faltar.
nos primeiros dias o meu ipod deixou de funcionar e eu achei muito estranho mas passado 2 dias voltou a funcionar...
tudo normal portanto... tinha deixado de aceitar corrente a passou de novo a aceitar.
acontece que passado uns dias voltou a deixar de dar, e o meu computador também não funcionava...
estranho, porque havia energia no quarto... e na casa de banho também, apesar da água às vezes no banho estar fria.
achei estranho ser sempre depois de faltar a luz que isto acontecia, ou pelo menos achava eu que era depois de faltar a luz...
falei com o irmão e fui ao quadro de eletricidade ver e de facto as tomadas do meu quarto estavam num dijuntor qualquer que sempre que faltava a luz disparava e não voltava a cima.
achava eu que era quando faltava a luz porque nos outros dias comprovei que era quando lhe apetece e de momento deixou de todo de funcionar... por isso passei a só ter luz no quarto, as tomadas só funcionam no quarto ou lado, por isso para usar o pc, carregar o telemovel ou o ipod tenho de vir aqui...
daí ter pouca paciência para grandes escritas.
bem indo ao que interessa...
os ultimos tempos têm sido demais... completamente diferente isto aqui.
para além do inglês que lá continua de manhã todos os dias com os meus 6 putos, agora às 2ª, 4ª e 6ª os miudos do centro, ou 15 deles, vão à cidade ter natação porque não sabem nadar...
e para além do espetaculo à parte que é ir de transportes "publicos" à cidade, vê-los a aprender a nadar é assim qualquer coisa completamente surreal... confirma-se que preto não sabe nadar yo...
a imagem deles a aprender a nadar... impagavel... chegando lá, o professor que ia dar as aulas, perguntou quem não sabia nadar...
dos 14 que lá estavam naquele dia, 3 disseram que não sabiam nadar o resto, sei sei...
depois perguntou quem é que sabia nadar 4 ou 5 a medo lá disseram que sim.
então ele disse para irem para dentro de água nadar só para fazer um testezinho para ele ver...
os 2 primeiros nadavam mal, mas pronto "servia" pro que era... iam ter uma aula normal daquelas de iniciação.
tenho acabado por nadar eu com eles assim numas aulas mais livres.
depois destes 2 foi a vez de ver o espetáculo dos outros... só mesmo vendo, a violência com que espancavam, pontapeiam e esmurram a água... a quantidade de espuma gerada... lindo.
o pânico e força com que fazem todos aqueles movimentos... lá depois de 2 fazerem o teste, o 3º que é o gajo mais velho, amanda-se de cima da piscina para dentro de água para ir fazer o teste, mesmo para cima dum dos outros que fazia o teste, nadam um contra o outro numa violência que dá assim o choque mais caricato que já vi dentro de água...
o professor e o resto da gente toda a rir, lá os mandou parar e chegava de "testes" iam todos ter uma aula igual de quem não sabe mesmo nadar.
para além de andar na piscina tenho andado a dar umas voltas por maputo, e andar ali só com os miudos é espetacular... ser o único branco nos transportes publicos também é assim qualquer coisa, claro que eu acho piada porque não tenho de o fazer por obrigação, mas é assim no mínimo divertido...
para além das idas à cidade à mais uma data de coisas para contar que não dá muito bem para explicar por palavras... como o ir às terrinhas mais afastadas da cidade.
ando a planear uma ida ao kruguer park na africa do sul e uma ida também mais para o norte de moçambique, tenho saudades do meu carro, estar aqui sem transporte próprio é chato.
aqui por estes lados não se vê nada ou quase nada alusivo ao natal, por aí deve estar o pandemonio instalado já, como normalmente.
estou a ver se tenho tempo para meter algumas fotos.
para além disso ver se tenho tempo para falar do problema das idades deles e o facto da maior parte nem saber quando nasceu... se souberem o ano já não é mau.
já vi finalmente algumas camisolas do sporting, o porto continua a dominar no entanto, também vi do benfica mas só 2.
o gajo que dizem que vai para o sporting ninguém ouviu falar dele, alias quando perguntei por ele perguntaram-me em ar de brincadeira se o sporting estava sem dinheiro para vir comprar moçambicanos :P
outra das coisas é a sida que é assim algo que não está com nada. daqui a uns anos deve chegar aos 50% da população, agora os números oficiais dos censos de 2007 apontam para 30%
vou tentar ver se escrevo mais qualquer coisa mas por agora é isto...
beijinhos e abraços.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
... (parte 3)
e chegou o sol :D
desde domingo, que temos finalmente o sol, já deu para andar de bicicleta, e ver aqui as redondezas melhor e também já deu para ir até maputo.
está a ser bem melhor.
também já sei os nomes dos miúdos todos que cá estão, são 21 ao todo, e todos os que cá estão são mesmo orfãos de pai e mãe. muitos deles são irmãos entre si.
aproveito para pedir já desculpa pelos erros que vou dar a escrever isto porque não tenho dicionário no notepad aqui... e como desde a primária que dou montes de erros, não me parece que vá mudar agora...
bem começando pelo inicio.
a cena do segurança fez-me um bocado de confusão, não foi também um susto assim tão grande, mas dava outra realidade à coisa, visto que eu não acho isto aqui nada pouco seguro.
no entanto em conversa sobre o segurança e os motivos de porquê eles terem segurança privado, pois parece que só num ano tiveram 8 assaltos, alguns deles, dizem eles, com colaboração da policia.
existem gangs próprios para assaltar missões, e coisas do género. vendo por este ponto de vista, qualquer segurança é pouca e seu eu vivesse cá todos os dias também iria querer estar o mais seguro possivel.
a parte da colaboração da policia não aprofundei muito a coisa, mas eles dizem que havia provas que o comandante daqui da zona estava metido nas coisas, fizeram queixas junto do ministério, chegaram a ter audiências com o ministro e tudo, segundo consta o comandante foi mudado para outra zona com mais população, ou seja no meu ponto de vista promovido... é sempre positivo.
consegui perceber também que o segurança não é sempre o mesmo :P
bem continuando.
até sábado não fiz grande coisa, dei aulas, chovia sempre sempre, e o meu ipod decidiu dar-lhe o amoc e deixar de funcionar... foi o semi-pânico...
é que para além do ipod, tinha trazido 3 livros para ler, mas na 6ª já os tinha acabado todos.
eram eles:
"Equador" do Miguel de Sousa Tavares, que eu odeio como pessoa e recuso ler qualquer coisa dele, mas sendo o primeiro livro que leio dele, fiquei agradavelmente surpreendido, preferia não ter gostado...
é assim um romance à lá Maias, obviamente pra pior, mas adorei o fim... e a história está boa. o único senão é que as personagens na minha cabeça eram as que via dos genéricos da tvi... mesmo sem ter visto a novela, fiquei com as imagens dos personagens na cabeça o que estraga um bocado a coisa.
depois li ainda o "Dias Exemplares", do Michael Cunningham, que é assim das cenas mais freakish que tenho lido nos últimos tempos...
antes destes, acabei de ler, "Liberal à Moda Antiga" do Francisco José Viegas que é um livro de encher chouriços... aglomerados de artigos dele... uns bons, outros completamente parciais... o costume, é sempre bom ler cenas com as quais não concordo muito e outras sobres as quais nem opinião tenho, só para tentar ver outros pontos de vista das coisas...
bem sendo que sexta choveu choveu choveu, e os italianos voluntários que cá estavam também, foram embora à noite, levaram o mau tempo com eles...
desde sábado que estou cá sozinho como voluntário, chegará novamente gente em Janeiro.
no sábado de manhã, estive na conversa com os miúdos pelo centro, tentar conhece-los melhor, mas estava um bocado mais a entrar em pânico com o não ter nada para fazer e o estar aqui no meio do nada, longe de tudo e sem contacto com quase ninguém, mas à hora de almoço veio o sol, e isso mudou tudo completamente.
com o sol parece que a disposição de toda a gente mudou para melhor, pelo menos a minha mudou...
depois de toda uma semana de chuva já só se queria ir à rua, por isso fui logo com os miúdos mais velhos dar uma volta de bicicleta, a distribuir uns flyers, feitos por eles, para uns cursos de informática que vão dar cá.
fugindo um bocado, o porquê do cursos:
o irmão alexandre, é o director do CIM, não sei porque não é padre, mas não é, toda a gente lhe chama irmão alexandre.
dizia, o irmão alexandre, esteve a explicar-me à hora de almoço, um bocado por curiosidade minha, depois da informação que tinha recolhido dos miúdos, os planos que eles tinham para eles cá no centro, como funcionavam as coisas, etc.
isto porquê, estava à espera de encontrar miúdos mais jovens, mas estão cá muitos à volta dos 18-20 anos...
portanto teoricamente eles só poderiam cá ficar até terem 18, mas existem muitos que cá estão e até já trabalham.
o plano do irmão para eles é ficam até arranjar uma maneira de poderem sair em condições...
para estarem cá têm é de estar a trabalhar ou a estudar.
só um está a trabalhar, o manuel, tirou um curso profissional de técnico de refrigeração e está a trabalhar numa empresa faz um ano, estão à espera de o estado que teoricamente vai dar umas parcelas de terreno, para eles (com a ajuda do CIM) fazerem umas casas e irem à vida deles... eles os mais velhos.
o manuel está portanto bem encaminhado.
o eugénio está a estudar direito, também estão à espera de terreno para a casa deste, e tem o curso a ser pago por um "padrinho" de italia. ainda é caro, 3.000€ ano.
depois existe o calisto que tirou um curso de cozinheiro e estão a tentar arranjar trabalho para ele. depois disto sobram 2 assim mais velhos também que é o alberto e o estevino.
o estevino ainda não percebi a situação dele, mas parece-me mais limitado na escola, deve ter começado muito tarde.
o alberto vai fazer uma coisa do género de pré-universidade. fazendo 2 anos, antes de depois começar o curso mesmo em si.
como em portugal estas coisas também aqui são caras, sendo uma privada e tudo, paga uns 750€ por ano, por isso é que precisa de auto-financiar-se, daí os cursos de informática.
a condição deles estarem aqui é se estão a estudar até ao 12º não podem chumbar, isto para os maiores de 18, se estão a trabalhar é tentar arranjar-lhes uma casa.
bem portanto estava eu a chegar de almoço no sábado e o alberto veio perguntar-me se eu queria ir com eles distribuir os panfletos... mortinho por sair daqui, aproveitei logo.
fomos buscar umas bicicletas, a minha era bem velhinha do género duma pasteleira, e bora de pedalar.
tal como vim depois a confirmar, Marracuene é bem bonito, era no tempo dos portugueses o ponto de turismo daqui dos arredores de Maputo, teria até hipopótamos, e coisas assim.
a casa de verão do governador de Portugal em Moçambique era aqui. tem assim uns ares de savana e campo com um rio grande à beira, com o oceano lá no fundo.
vai então na volta de bicicleta o primeiro passo é ir até à escola onde eles estudam a ver as notas. só para contextualizar... choveu uma semana inteira. moçambique tem UMA estrada nacional, que liga maputo até à cidade mais lá na ponta de cima, isto sempre junto ao litoral.
Marracuene tem alcatrão muito velho, e só no centro da vilazinha onde estou, devido ainda ao tempo português.
indo então a caminho da escola, e passando no meio dos buracos e da lama, chego ao que é um descampado com barracões ao fundo... um deles diz, directoria... ok é isto a escola...
escola que segundo o irmão é a melhor daqui da zona... não tem assim tão mau aspecto quanto isso, mas pronto não sei também o que esperava. consigo agora perceber porque querem eles abrir no centro uma escola até ao 12º. as condições no centro são muito melhores. a escolaridade "obrigatória" em moçambique é até ao 7º, obviamente que ninguém quer saber se fazem ou não a escola.
chegado à escola altura de dividir cada um para seu lado a distribuir as folhas, obviamente que fui atrás dum deles, o alberto, porque não conheço nada aqui... onde é que vamos pergunto eu, é já aqui diz ele...
fomos em direcção à estrada nacional, fazemos uns 500 metros, onde dá para ter uma noção dos carros deles, tudo podre e apinhadissimos... e vai de virar para uma estrada de terra batida, tudo normal.
começa a andar na estrada e casas ali perto nem vê-las... anda anda anda, desvia de buraco, pedala na lama, pedala na areia, pedala ainda mais, andamos uns 30 minutos se passamos por 10 casas foi muito, gente na rua nem ver, então não distribuímos panfletos a ninguém. os panfletos são folhas A4 feitas a computador que basicamente dizem curso de windows e office, 800 Mts.
passado essa meia hora ou mais, ele para... entrega um flyer a um gajo que estava sentado à porta duma casa e eu aproveito para perguntar se ainda falta muito, etc...
ele diz que não, é isto já cá estamos, portanto estamos no meio do nada, onde só existe campo e duas ou três casas, de gente que nem se vê porque as casas ficam longissimo da estradinha por onde íamos...
eu olhei para ele... e ele deve ter percebido a coisa porque me disse, vamos mais pro meio do bairro agora, viramos então para o meio dum caminho de cabras que lá havia e vai de pedalar...
passamos por ervas, lama, lixo, e começam as primeiras palhotas... e eu penso de casas sem ninguém e zonas desertas para sítios onde nem electricidade deve haver... marketing ou product placement não é o forte dele...
mas ao menos já havia gente a querer as folhas, ou pelo menos gente a quem as dar.
pormenor interessantíssimo é fazerem isto sendo brancos... até aqui desde que sai do CIM tinha visto 1 branco só... é as caras que eles fazem quando passa um branco de bicicleta no meio do nenhures... não é que não estão habituados a brancos, mas não se devem vê-los por ali muito, muito menos a distribuir papeis...
por entre ruas e ruelas, quando dou por mim e passado à vontade 1h, estava completamente morto de cansaço já, dou por mim e estamos de volta à escola... e sem folhas já.
pensando para comigo, não te vais auto financiar nunca na vida por aqui, digo-lhe que vou voltar para o centro, e ele diz-me eu vou também, para te levar a ver a "vila".
fomos 5 andar a distribuir os papeis, separa-mo-nos na escola e quando voltamos lá eles também já andavam de novo por ali.
alguns ainda ficaram a passear por ali, fui só eu e o alberto ver a vila.
a vila não é mais que casas decentes, para o padrão, com estação dos correios, onde tenho de ir enviar uns postais qualquer dia, complicado vai ser encontrar, um sitio onde se apanha o barco para ir à praia, e uma estação de comboios.
vi também uma feira, uma espécie de praça, mas em vez de bancadas eles têm tudo no chão.
foi divertido, e ver a malta a olhar quando se passa é sempre giro, deu para ver o sitio, sair do centro e estar sem pensar em nada, deixar um bocado absorver a sensação de estar aqui no meio do nada, fora de tudo o que é "normal".
e ao contrário do que tinha previsto, até deu resultado porque já apareceram 5 ou 6 miúdos a perguntarem pelo curso e a quererem inscrever-se... portanto tenho de me calar +-... nunca iria acreditar que malta que não sabe ler nem escrever, não tem electricidade em casa, fosse tentar meter os filhos em cursos de computadores mas pelos vistos metem.
voltando ao centro o meu sábado ficou basicamente feito. domingo também foi passado meio na conversa aqui pelo centro com os miudos, estive também em estudo do meu ipod e deixei-me vencer por ele, na esperança que se não lhe mexer e com o tempo ele voltasse a si... acabou por funcionar que ontem segunda ficou bom, tinha ficado sem carga completamente e não aceitava carga nova e o computador não o reconhecia... passado um dia depois de 2 dias a tentar voltou a funcionar... perfeito.
segunda feira uma grande aventura, depois da aula normal, vamos à cidade, porque tenho de ir buscar uns cds que mandei vir de lisboa pela minha tia, para lhe dar uns programas, tipo photoshop, etc...
quando vamos a sair do centro para ir a maputo, o jorge que é irmão do alberto, está a tirar uma espécie de curso profissional na escola superior de turismo ou algo do género, pediu para vir também, a minha tia só ia estar despachada às 15.30 e o irmão que ia comigo tinha de ir às compras de material para as obras.
quando fomos a sair o irmão perguntou-me se eu sabia conduzir, e tinha carta e queria levar o carro... disse logo que sim.
foi assim qualquer coisa de surreal... nunca tinha conduzido do lado contrário e meter mudanças com a mão esquerda... o atrofiou... e o pisca que é do lado errado também e a cada cruzamento fazia com que ligasse o limpa para-brisas... foi espectacular...
e os gajos são loucos a conduzir cá e os peões ainda pior que andam quase no meio da estrada. só conduzi um bocado porque ao pé do estádio em construção, existe um posto fixo de controlo da entrada e saída de maputo... como não tinha passaporte comigo, esqueci-me dele no CIM, troquei e fui pro lugar do pendura.
mesmo assim continuou a ser uma viagem surreal.
parecia que tinha chegado ao 3º mundo, montes de gente a andar à beira da estrada, não se via cidade em lado nenhum, ou centro da cidade, era só pessoas à beira das estradas, mercados improvisados e campo a todo o lado... lixo, poeira, pessoas e campo.
de repente o transito começa a ficar cada vez pior, deixa de haver a noção de faixa e temos montes de carros parados nas bermas, barracas de cimento em tudo o que é lado, os famosos chapas, que são mini camionetes de 12 ou 13 pessoas onde vão uns 20 de cada vez, e carros velhos, pessoas em todo o lado.
é assim durante kilometros, à vontade uns 15 minutos de casas, lixeiras a ceu aberto, espécies de canais sem água e trânsito, trânsito por todo o lado.
entramos lá para uma ruazita e estamos numa espécie de AKI cá do sitio.
já se vêm alguns brancos por aqui, mas muito poucos, compramos o que era preciso, e segue para o outro lugar.
agora ia-mos buscar umas pilhas, daquelas dos relógios de pulso, para um jogo do género de nitendo ds mas daqueles antigos.
lá voltamos à confusão e de repente começam a ver-se prédios muito muito lá ao fundo... era a avenida eduardo mondlane, um dos que lutou contra portugal pela independência vim a descobrir.
tem uma estátua onde estava uma estátua antiga de lourenço marques.
é uma avenida bem grandinha, +- plana, fez-me lembrar belgrado pela sujidade/poluição e assim um ar degradado. é como se tivesse parado nos anos 70, e parou.
eu não sabia mas moçambique é desde a independência, não sei se agora ainda é, um regime semi-comunista.
antes de ir às pilhas era altura de ir a casa da minha tia, que fica numa zona chamada museu, porque é ao pé do museu de historia natural.
à ida para lá passei por montes de chapas que diziam museu/benfica. benfica também é uma zona de maputo. sporting não há, tenho visto bué pretos, já vi mais de 10 à vontade com camisolas do porto... do sporting e benfica é que ainda nada.
enquanto eu estive a falar com a minha tia e ela esteve-me a mostrar o sitio onde está agora, o irmão foi mais o jorge a uma piscina que há ali perto pois quer meter os miúdos na natação porque eles não sabem nadar...
a minha tia, é missionária faz já 25 anos e quase que desde que eu me lembro de ser eu que ela está em moçambique.
lá me deu uns cds e uns livros de informática, que tinha pedido ao meu pai para enviar para ela e de seguida fomos até ao porto, porque o irmão tinha recebido um telefonema dum amigo importador italiano, que tinha umas coisas para lhe oferecer, era uns biscoitos que já não podiam ser vendidos devido à brevidade da validade.
depois de irmos ao porto fomos então buscar as pilhas, que ficava algures na cidade, ao pé duma avenida que se chama Ho Chi Min em memória dum chinês qualquer. não sabia, mas Moçambique foi governado por comunistas, ainda é mas agora já é mais soft, então tem montes de ruas em homenagens a lideres comunistas tal como este ho chi min, depois estaline, lenin, markx, mao, etc...
depois das pilhas era altura de voltar para o centro e o irmão decidiu levar-nos por um atalho pelo meio dos bairros mais pobres, segundo consta é também bom para fugir ao trânsito.
fizemos então uma rua junto à linha de comboio, durante uns 20 kms, onde não se viu mais nada que barracas... nuns sítios em mais concentração que outros, no entanto só barracas. nesta ida junto à linha de comboio, em que passei por mahotas, que é um bairro onde a minha tia já esteve e alguns dos miúdos daqui do CIM são de lá, passei por uma cena à beira da estrada engraçada, que foi um preto e uma preta sentados numa árvore, assim uns gajos duns 20 anos +-... devia ser uma espécie dum date mas o engraçado é que o preto tinha uma camisola do porto, devia ser a roupa mais fixe dele.
após mais uns quantos quilometros, em que passei na estrada onde tinha andado de bicicleta, mas sem me aperceber disso ao inicio, chegamos de novo ao centro.
durante a viagem deu também para ver pela primeira vez o oceano indico, quando passamos por uma zona que era uma espécie de marginal cá do sitio, chamada costa do sol.
é onde tem também umas discotecas acho. pelo menos bares tem.
tal como já tinha dito com o sol voltou mesmo a normalidade.
o meu ipod já funciona, o sporting já ganha, tudo parece estar bem... vamos a ver este fim de semana :D
o vialonga também lá segue imparável, 3 jogos seguidos a vencer, 2 vitórias em 2 jogos desde que me fui embora :)
bem isto já vai longo e ainda tenho coisas para contar, mas depois escrevo mais que já estou farto.
latter ;)
desde domingo, que temos finalmente o sol, já deu para andar de bicicleta, e ver aqui as redondezas melhor e também já deu para ir até maputo.
está a ser bem melhor.
também já sei os nomes dos miúdos todos que cá estão, são 21 ao todo, e todos os que cá estão são mesmo orfãos de pai e mãe. muitos deles são irmãos entre si.
aproveito para pedir já desculpa pelos erros que vou dar a escrever isto porque não tenho dicionário no notepad aqui... e como desde a primária que dou montes de erros, não me parece que vá mudar agora...
bem começando pelo inicio.
a cena do segurança fez-me um bocado de confusão, não foi também um susto assim tão grande, mas dava outra realidade à coisa, visto que eu não acho isto aqui nada pouco seguro.
no entanto em conversa sobre o segurança e os motivos de porquê eles terem segurança privado, pois parece que só num ano tiveram 8 assaltos, alguns deles, dizem eles, com colaboração da policia.
existem gangs próprios para assaltar missões, e coisas do género. vendo por este ponto de vista, qualquer segurança é pouca e seu eu vivesse cá todos os dias também iria querer estar o mais seguro possivel.
a parte da colaboração da policia não aprofundei muito a coisa, mas eles dizem que havia provas que o comandante daqui da zona estava metido nas coisas, fizeram queixas junto do ministério, chegaram a ter audiências com o ministro e tudo, segundo consta o comandante foi mudado para outra zona com mais população, ou seja no meu ponto de vista promovido... é sempre positivo.
consegui perceber também que o segurança não é sempre o mesmo :P
bem continuando.
até sábado não fiz grande coisa, dei aulas, chovia sempre sempre, e o meu ipod decidiu dar-lhe o amoc e deixar de funcionar... foi o semi-pânico...
é que para além do ipod, tinha trazido 3 livros para ler, mas na 6ª já os tinha acabado todos.
eram eles:
"Equador" do Miguel de Sousa Tavares, que eu odeio como pessoa e recuso ler qualquer coisa dele, mas sendo o primeiro livro que leio dele, fiquei agradavelmente surpreendido, preferia não ter gostado...
é assim um romance à lá Maias, obviamente pra pior, mas adorei o fim... e a história está boa. o único senão é que as personagens na minha cabeça eram as que via dos genéricos da tvi... mesmo sem ter visto a novela, fiquei com as imagens dos personagens na cabeça o que estraga um bocado a coisa.
depois li ainda o "Dias Exemplares", do Michael Cunningham, que é assim das cenas mais freakish que tenho lido nos últimos tempos...
antes destes, acabei de ler, "Liberal à Moda Antiga" do Francisco José Viegas que é um livro de encher chouriços... aglomerados de artigos dele... uns bons, outros completamente parciais... o costume, é sempre bom ler cenas com as quais não concordo muito e outras sobres as quais nem opinião tenho, só para tentar ver outros pontos de vista das coisas...
bem sendo que sexta choveu choveu choveu, e os italianos voluntários que cá estavam também, foram embora à noite, levaram o mau tempo com eles...
desde sábado que estou cá sozinho como voluntário, chegará novamente gente em Janeiro.
no sábado de manhã, estive na conversa com os miúdos pelo centro, tentar conhece-los melhor, mas estava um bocado mais a entrar em pânico com o não ter nada para fazer e o estar aqui no meio do nada, longe de tudo e sem contacto com quase ninguém, mas à hora de almoço veio o sol, e isso mudou tudo completamente.
com o sol parece que a disposição de toda a gente mudou para melhor, pelo menos a minha mudou...
depois de toda uma semana de chuva já só se queria ir à rua, por isso fui logo com os miúdos mais velhos dar uma volta de bicicleta, a distribuir uns flyers, feitos por eles, para uns cursos de informática que vão dar cá.
fugindo um bocado, o porquê do cursos:
o irmão alexandre, é o director do CIM, não sei porque não é padre, mas não é, toda a gente lhe chama irmão alexandre.
dizia, o irmão alexandre, esteve a explicar-me à hora de almoço, um bocado por curiosidade minha, depois da informação que tinha recolhido dos miúdos, os planos que eles tinham para eles cá no centro, como funcionavam as coisas, etc.
isto porquê, estava à espera de encontrar miúdos mais jovens, mas estão cá muitos à volta dos 18-20 anos...
portanto teoricamente eles só poderiam cá ficar até terem 18, mas existem muitos que cá estão e até já trabalham.
o plano do irmão para eles é ficam até arranjar uma maneira de poderem sair em condições...
para estarem cá têm é de estar a trabalhar ou a estudar.
só um está a trabalhar, o manuel, tirou um curso profissional de técnico de refrigeração e está a trabalhar numa empresa faz um ano, estão à espera de o estado que teoricamente vai dar umas parcelas de terreno, para eles (com a ajuda do CIM) fazerem umas casas e irem à vida deles... eles os mais velhos.
o manuel está portanto bem encaminhado.
o eugénio está a estudar direito, também estão à espera de terreno para a casa deste, e tem o curso a ser pago por um "padrinho" de italia. ainda é caro, 3.000€ ano.
depois existe o calisto que tirou um curso de cozinheiro e estão a tentar arranjar trabalho para ele. depois disto sobram 2 assim mais velhos também que é o alberto e o estevino.
o estevino ainda não percebi a situação dele, mas parece-me mais limitado na escola, deve ter começado muito tarde.
o alberto vai fazer uma coisa do género de pré-universidade. fazendo 2 anos, antes de depois começar o curso mesmo em si.
como em portugal estas coisas também aqui são caras, sendo uma privada e tudo, paga uns 750€ por ano, por isso é que precisa de auto-financiar-se, daí os cursos de informática.
a condição deles estarem aqui é se estão a estudar até ao 12º não podem chumbar, isto para os maiores de 18, se estão a trabalhar é tentar arranjar-lhes uma casa.
bem portanto estava eu a chegar de almoço no sábado e o alberto veio perguntar-me se eu queria ir com eles distribuir os panfletos... mortinho por sair daqui, aproveitei logo.
fomos buscar umas bicicletas, a minha era bem velhinha do género duma pasteleira, e bora de pedalar.
tal como vim depois a confirmar, Marracuene é bem bonito, era no tempo dos portugueses o ponto de turismo daqui dos arredores de Maputo, teria até hipopótamos, e coisas assim.
a casa de verão do governador de Portugal em Moçambique era aqui. tem assim uns ares de savana e campo com um rio grande à beira, com o oceano lá no fundo.
vai então na volta de bicicleta o primeiro passo é ir até à escola onde eles estudam a ver as notas. só para contextualizar... choveu uma semana inteira. moçambique tem UMA estrada nacional, que liga maputo até à cidade mais lá na ponta de cima, isto sempre junto ao litoral.
Marracuene tem alcatrão muito velho, e só no centro da vilazinha onde estou, devido ainda ao tempo português.
indo então a caminho da escola, e passando no meio dos buracos e da lama, chego ao que é um descampado com barracões ao fundo... um deles diz, directoria... ok é isto a escola...
escola que segundo o irmão é a melhor daqui da zona... não tem assim tão mau aspecto quanto isso, mas pronto não sei também o que esperava. consigo agora perceber porque querem eles abrir no centro uma escola até ao 12º. as condições no centro são muito melhores. a escolaridade "obrigatória" em moçambique é até ao 7º, obviamente que ninguém quer saber se fazem ou não a escola.
chegado à escola altura de dividir cada um para seu lado a distribuir as folhas, obviamente que fui atrás dum deles, o alberto, porque não conheço nada aqui... onde é que vamos pergunto eu, é já aqui diz ele...
fomos em direcção à estrada nacional, fazemos uns 500 metros, onde dá para ter uma noção dos carros deles, tudo podre e apinhadissimos... e vai de virar para uma estrada de terra batida, tudo normal.
começa a andar na estrada e casas ali perto nem vê-las... anda anda anda, desvia de buraco, pedala na lama, pedala na areia, pedala ainda mais, andamos uns 30 minutos se passamos por 10 casas foi muito, gente na rua nem ver, então não distribuímos panfletos a ninguém. os panfletos são folhas A4 feitas a computador que basicamente dizem curso de windows e office, 800 Mts.
passado essa meia hora ou mais, ele para... entrega um flyer a um gajo que estava sentado à porta duma casa e eu aproveito para perguntar se ainda falta muito, etc...
ele diz que não, é isto já cá estamos, portanto estamos no meio do nada, onde só existe campo e duas ou três casas, de gente que nem se vê porque as casas ficam longissimo da estradinha por onde íamos...
eu olhei para ele... e ele deve ter percebido a coisa porque me disse, vamos mais pro meio do bairro agora, viramos então para o meio dum caminho de cabras que lá havia e vai de pedalar...
passamos por ervas, lama, lixo, e começam as primeiras palhotas... e eu penso de casas sem ninguém e zonas desertas para sítios onde nem electricidade deve haver... marketing ou product placement não é o forte dele...
mas ao menos já havia gente a querer as folhas, ou pelo menos gente a quem as dar.
pormenor interessantíssimo é fazerem isto sendo brancos... até aqui desde que sai do CIM tinha visto 1 branco só... é as caras que eles fazem quando passa um branco de bicicleta no meio do nenhures... não é que não estão habituados a brancos, mas não se devem vê-los por ali muito, muito menos a distribuir papeis...
por entre ruas e ruelas, quando dou por mim e passado à vontade 1h, estava completamente morto de cansaço já, dou por mim e estamos de volta à escola... e sem folhas já.
pensando para comigo, não te vais auto financiar nunca na vida por aqui, digo-lhe que vou voltar para o centro, e ele diz-me eu vou também, para te levar a ver a "vila".
fomos 5 andar a distribuir os papeis, separa-mo-nos na escola e quando voltamos lá eles também já andavam de novo por ali.
alguns ainda ficaram a passear por ali, fui só eu e o alberto ver a vila.
a vila não é mais que casas decentes, para o padrão, com estação dos correios, onde tenho de ir enviar uns postais qualquer dia, complicado vai ser encontrar, um sitio onde se apanha o barco para ir à praia, e uma estação de comboios.
vi também uma feira, uma espécie de praça, mas em vez de bancadas eles têm tudo no chão.
foi divertido, e ver a malta a olhar quando se passa é sempre giro, deu para ver o sitio, sair do centro e estar sem pensar em nada, deixar um bocado absorver a sensação de estar aqui no meio do nada, fora de tudo o que é "normal".
e ao contrário do que tinha previsto, até deu resultado porque já apareceram 5 ou 6 miúdos a perguntarem pelo curso e a quererem inscrever-se... portanto tenho de me calar +-... nunca iria acreditar que malta que não sabe ler nem escrever, não tem electricidade em casa, fosse tentar meter os filhos em cursos de computadores mas pelos vistos metem.
voltando ao centro o meu sábado ficou basicamente feito. domingo também foi passado meio na conversa aqui pelo centro com os miudos, estive também em estudo do meu ipod e deixei-me vencer por ele, na esperança que se não lhe mexer e com o tempo ele voltasse a si... acabou por funcionar que ontem segunda ficou bom, tinha ficado sem carga completamente e não aceitava carga nova e o computador não o reconhecia... passado um dia depois de 2 dias a tentar voltou a funcionar... perfeito.
segunda feira uma grande aventura, depois da aula normal, vamos à cidade, porque tenho de ir buscar uns cds que mandei vir de lisboa pela minha tia, para lhe dar uns programas, tipo photoshop, etc...
quando vamos a sair do centro para ir a maputo, o jorge que é irmão do alberto, está a tirar uma espécie de curso profissional na escola superior de turismo ou algo do género, pediu para vir também, a minha tia só ia estar despachada às 15.30 e o irmão que ia comigo tinha de ir às compras de material para as obras.
quando fomos a sair o irmão perguntou-me se eu sabia conduzir, e tinha carta e queria levar o carro... disse logo que sim.
foi assim qualquer coisa de surreal... nunca tinha conduzido do lado contrário e meter mudanças com a mão esquerda... o atrofiou... e o pisca que é do lado errado também e a cada cruzamento fazia com que ligasse o limpa para-brisas... foi espectacular...
e os gajos são loucos a conduzir cá e os peões ainda pior que andam quase no meio da estrada. só conduzi um bocado porque ao pé do estádio em construção, existe um posto fixo de controlo da entrada e saída de maputo... como não tinha passaporte comigo, esqueci-me dele no CIM, troquei e fui pro lugar do pendura.
mesmo assim continuou a ser uma viagem surreal.
parecia que tinha chegado ao 3º mundo, montes de gente a andar à beira da estrada, não se via cidade em lado nenhum, ou centro da cidade, era só pessoas à beira das estradas, mercados improvisados e campo a todo o lado... lixo, poeira, pessoas e campo.
de repente o transito começa a ficar cada vez pior, deixa de haver a noção de faixa e temos montes de carros parados nas bermas, barracas de cimento em tudo o que é lado, os famosos chapas, que são mini camionetes de 12 ou 13 pessoas onde vão uns 20 de cada vez, e carros velhos, pessoas em todo o lado.
é assim durante kilometros, à vontade uns 15 minutos de casas, lixeiras a ceu aberto, espécies de canais sem água e trânsito, trânsito por todo o lado.
entramos lá para uma ruazita e estamos numa espécie de AKI cá do sitio.
já se vêm alguns brancos por aqui, mas muito poucos, compramos o que era preciso, e segue para o outro lugar.
agora ia-mos buscar umas pilhas, daquelas dos relógios de pulso, para um jogo do género de nitendo ds mas daqueles antigos.
lá voltamos à confusão e de repente começam a ver-se prédios muito muito lá ao fundo... era a avenida eduardo mondlane, um dos que lutou contra portugal pela independência vim a descobrir.
tem uma estátua onde estava uma estátua antiga de lourenço marques.
é uma avenida bem grandinha, +- plana, fez-me lembrar belgrado pela sujidade/poluição e assim um ar degradado. é como se tivesse parado nos anos 70, e parou.
eu não sabia mas moçambique é desde a independência, não sei se agora ainda é, um regime semi-comunista.
antes de ir às pilhas era altura de ir a casa da minha tia, que fica numa zona chamada museu, porque é ao pé do museu de historia natural.
à ida para lá passei por montes de chapas que diziam museu/benfica. benfica também é uma zona de maputo. sporting não há, tenho visto bué pretos, já vi mais de 10 à vontade com camisolas do porto... do sporting e benfica é que ainda nada.
enquanto eu estive a falar com a minha tia e ela esteve-me a mostrar o sitio onde está agora, o irmão foi mais o jorge a uma piscina que há ali perto pois quer meter os miúdos na natação porque eles não sabem nadar...
a minha tia, é missionária faz já 25 anos e quase que desde que eu me lembro de ser eu que ela está em moçambique.
lá me deu uns cds e uns livros de informática, que tinha pedido ao meu pai para enviar para ela e de seguida fomos até ao porto, porque o irmão tinha recebido um telefonema dum amigo importador italiano, que tinha umas coisas para lhe oferecer, era uns biscoitos que já não podiam ser vendidos devido à brevidade da validade.
depois de irmos ao porto fomos então buscar as pilhas, que ficava algures na cidade, ao pé duma avenida que se chama Ho Chi Min em memória dum chinês qualquer. não sabia, mas Moçambique foi governado por comunistas, ainda é mas agora já é mais soft, então tem montes de ruas em homenagens a lideres comunistas tal como este ho chi min, depois estaline, lenin, markx, mao, etc...
depois das pilhas era altura de voltar para o centro e o irmão decidiu levar-nos por um atalho pelo meio dos bairros mais pobres, segundo consta é também bom para fugir ao trânsito.
fizemos então uma rua junto à linha de comboio, durante uns 20 kms, onde não se viu mais nada que barracas... nuns sítios em mais concentração que outros, no entanto só barracas. nesta ida junto à linha de comboio, em que passei por mahotas, que é um bairro onde a minha tia já esteve e alguns dos miúdos daqui do CIM são de lá, passei por uma cena à beira da estrada engraçada, que foi um preto e uma preta sentados numa árvore, assim uns gajos duns 20 anos +-... devia ser uma espécie dum date mas o engraçado é que o preto tinha uma camisola do porto, devia ser a roupa mais fixe dele.
após mais uns quantos quilometros, em que passei na estrada onde tinha andado de bicicleta, mas sem me aperceber disso ao inicio, chegamos de novo ao centro.
durante a viagem deu também para ver pela primeira vez o oceano indico, quando passamos por uma zona que era uma espécie de marginal cá do sitio, chamada costa do sol.
é onde tem também umas discotecas acho. pelo menos bares tem.
tal como já tinha dito com o sol voltou mesmo a normalidade.
o meu ipod já funciona, o sporting já ganha, tudo parece estar bem... vamos a ver este fim de semana :D
o vialonga também lá segue imparável, 3 jogos seguidos a vencer, 2 vitórias em 2 jogos desde que me fui embora :)
bem isto já vai longo e ainda tenho coisas para contar, mas depois escrevo mais que já estou farto.
latter ;)
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