terça-feira, 22 de dezembro de 2009

... parte 6

bem não ando muito escritor, mais que a vontade de escrever que não é muita, a culpa tem sido do muito calor, que faz o estar sentado em frente ao computador um martírio mesmo grande, como também do facto de achar que as coisas só por palavras não terem assim grande impacto descritivo.

é que ficam sempre montes de coisas por contar e explicar e é meio frustrante.

ando aqui com umas ideias de fazer uns vídeos de certas coisas, mas depois só os posso meter online quando chegar a Lisboa, o mesmo com as fotos, que vou pondo algumas no facebook, mas não tenho tempo/paciência para replicar para aqui.

uma das coisas que não dá para descrever é a felicidade que as crianças têm a mexer nos "nossos" cabelos, mas não só nos cabelos como nos pêlos das pernas. é assim uma cena um bocado wierd quando se chega e passado um bocado de conversa para ganharem confiança os miúdos se decidem lançar num ataque aos cabelos...

a 1ª vez que me aconteceu foi numa coisa que eles têm aqui na paroquia de marracuene para entreter as crianças nas tardes de verão.

chama-se tardes de alegria, que são 3 semanas, onde basicamente se arranja umas actividades para as crianças se divertirem, do género, cantar, dançar, jogar à bola, etc.

eram 3 semanas temáticas cada uma com um tema sobre os direitos das crianças, a 1ª era o direito a ter uma família, a 2ª era ter direito a comer, a 3ª era ter direito a brincar.

bem continuando, estava lá a assistir aos miúdos a brincar, um concurso de dança neste caso, e estava sentado ao lado duns miúdos a conversar com um deles, mais naquela do como é que te chamas, etc.

ele estava a falar comigo e a passado um minuto assim sem dizer nada de estar só a olhar para mim, decide começar a mexer-me nos pêlos das pernas, normalmente o calor aqui é tanto que ando sempre de calções ou bermudas.

achei assim um bocado estranho mas o miúdo estava-se a rir eu ri-me também para ele e siga...

no dia seguinte também na mesma cena das tardes de alegria, o mesmo miúdo estava lá numa espécie de coreto, uma espécie de plataforma redonda com um muro a toda a volta e um tecto de palha que está destruído. ele estava sentado no muro, disse-me um adeus muito efusivo e eu aproximei-me dele só para dizer olá.

cheguei lá estava a dizer-lhe olá e aos amigos dele e encostei-me ao mundo para ficar a olhar para o resto dos miúdos que andavam por lá a correr e a saltar.

passado uns segundos ele com a maior das felicidades do mundo, e também o maior dos sorrisos, decide lançar-se num ataque aos meus cabelos, bem com as duas mãos e braços abertos... como já me tinham falado de tal coisa, quando isto me aconteceu comecei-me a rir bué, ia-me desmanchando a rir, mas estava a tentar controlar a coisa. quando eu me começo a rir, os amigos dele que estavam por lá ao lado acharam que se eu me estava a rir tudo bem e decidem ir todos mexer no meu cabelo... cena wierd, estavam lá umas 6 ou 7 crianças a mexer-me no cabelo... não me estava a fazer muita confusão mas também não é nada muito confortável, mas antes que aquilo começasse a tomar circunstâncias drásticas, do género uns 20 miúdos a amontoarem-se para andar a mexer no teu cabelo, comecei a dispersa-los, mas a rir-me e a dizer para eles irem para as actividades, jogar à bola, correr, dançar, saltar, etc.

para já que sendo o único branco já sou por norma o centro das atenções, não preciso de ainda mais cenas para gerar confusão e é suposto eles estarem ali para se divertirem uns com os outros.

mas pronto é mesmo uma diversão enorme para eles mexer nos cabelos, e confesso que eu também me divirto às vezes a mexer nos deles, parece assim uma espécie de esponja...

não houve dia que eu fosse lá à cena das tardes que passado um bocado de lhes dizer uns olás, como te chamas, etc, não houvesse um ou outro que não começa-se a mexer no cabelo. acaba por ser uma coisa que nos habituamos. e enquanto são 2 ou 3 de cada vez não é nada demais.

a parte engraçada é que isto fez com que cada vez que eu atravesso ali uma zona de quem vem da vila para o centro, antes de chegar na igreja, passo assim por uma rua interior mesmo no meio do bairro, e não tem dia que eu passe lá pelas 6 ou 7, quando venho da piscina à tarde, que não tenha 2 ou 3 miúdos a dizer: "olá Miguel, olá..." a maior parte deles eu nem me lembro de os ver lá, mas diz-se sempre olá e sorri-se que eles ficam todos contentes, mais contentes ficam se souberes o nome deles.

é divertido, e tem piada que eles fixam mesmo as cenas, o miúdo da cena dos pelos das pernas, o Xandino, não sei se se escreve assim, a das primeiras coisas que me perguntou foi, "o lucas?" ao que eu respondi, não sei, eu não conheço o Lucas, e ele disse-me pois foi para longe foi para a Itália, vim a descobrir que o Lucas era um jovem italiano que esteve cá, mais ou menos como eu, há uns 2 anos atrás, o Xandino deve ter uns 6 anos, logo teria uns 4 na altura mas ainda se lembra dele...

para além das tardes de alegria outras das coisas engraçadas que aconteceu foi a ida à praia de Macaneta, onde para não variar apanhei um dos maiores escaldões como já não apanhava há muito, felizmente nas costas não foi muito, foi mais na cara e orelhas. obviamente esqueci-me de trazer creme protector.

mas começa-mos por ir para a praia, teoricamente às 8 da manhã, ia com o conjunto dos monitores das tardes de alegria, um deles perguntou-me se eu queria ir com eles e eu disse logo que sim... praia bora...

portanto às 8 lá estava eu... eles herdaram o belo costume português de chegar atrasado, o nosso transporte só chegou às 9 e tal.

éramos 30 e ia-mos todos num carro, na parte de trás duma pickup... como para ir até à praia são uns kilometros e tem de se atravessar o batelão, que é um barco +- quadrado que leva a malta dum lado ao outro do rio.

como para ir até ao rio dá para ir a pé, eu e mais alguns fomos a pé, porque a carrinha estava demasiado cheia.

depois de esperar algum tempo para atravessar, porque faz filas que são muitos carros a querer passar e só cabem 5 a 6 de cada vez.

atravessamos e chegando ao outro lado reparamos que uma rapariga tinha ficado para trás, tínhamos de esperar que o barco fosse de novo lá e voltasse... que ia levar uns 30 minutos pelo menos. aqui tudo é muito muito lento...

o condutor do carro disse que já que éramos muitos ele ia levando as raparigas 1º... eu sinceramente ainda disse, é melhor não, ou na brincadeira disse para ele levar alguns rapazes e algumas raparigas, do género, e disse mesmo isto, se ele leva as gajas todas já não volta...

acabaram por ir 2 rapazes com as raparigas e ficamos uns 10 rapazes para trás e duas raparigas, a que estava ainda a esperar o barco e outra que não foi no carro porque não foi.

a estrada para a praia é muito má, mas ao fim de esperar-mos quase uns 10 minutos depois do barco chegar, decidimos ir a caminho e apanhar a boleia algures quando tivessem no percurso de regresso, ao fim de andar-mos bem mais de metade do caminho, quase 1h, aparece o nosso transporte, tinha ficado lá à espera de ter gente para trazer a carrinha cheia até ao barco... ainda ia ao barco descarregar e depois voltar... conclusão andamos o caminho até à praia quase todo, que são 7km... chegámos à praia, ainda depois de andar um terço do caminho +- de carro na boleia, pelas 12h+-

sinceramente se eu soubesse o que aí vinha no tempo que fomos de carro tinha ido o resto a pé, é que a estrada é toda de terra batida e aos buracos, ir no pickup sentado de lado na caixa com tanto solavanco fiquei com umas dores no rabo que nem vos conto...

mas chegado à praia tudo passou, para já porque assim que começamos a subir a duna, que dá para a praia, que tem uns arbusto, começo a ouvir um barulho bué estranho nos arbustos, eram macacos... existem macacos na praia, mas não se deixam muito bem ver muito menos chegar perto, fogem logo para o meu dos arbustos... mas pronto tem macacos a praia :P

e depois a praia é muito bonita, nada fora de normal no entanto mas bonita principalmente porque é muito vasta e não tem ainda muitas coisas, só algumas consturçõezinhas duns sul africanos.

nota: existem praias mais para norte de moçambique totalmente pertencentes a sul africanos, ao que eles chamam boers, não sei se se escreve assim, ainda com sinais e cenas a dizer "no blacks"... eu perguntei como é que o governo de moçambique aceita isso e os gajos só me souberam dizer porque sim, os gajos, seja os rapazes que estavam comigo na praia de macaneta, que eram eles que me estavam a contar a cena, mas o meu avô também já testemunhou tal coisa, eu vou tentar ver se lá vou qualquer dia.

bem voltando à praia, rio dum lado, oceano do outro, gira.

os padres tinham-me falado que a água era fria, portanto assim que cheguei à praia fui ao banho que estava cheio de calor, mas fiquei naquela... se é fria é melhor mergulhar logo para não estranhar muito... vou logo a correr entro dentro de água e semi desilusão... a água fez-me lembrar a Tunísia... super quente... e ainda por cima bué salgada... mas estava-se muito bem... tive a maior parte do tempo todo até ao almoço, que deve ter sido 1h +- na minha diversão areia/água/areia outra vez.

a areia é assim meio grossa mas não muito, é difícil de explicar, não é totalmente fininha como quem conhece no Baleal por exemplo, mas também não é assim como se fosse a da Ericeira...

a parte mais gira do ir à praia, foi 1º o facto de comprovar que metade das gentes aqui não sabe nadar, dos que foram comigo só 5 rapazes sabiam e nenhuma das raparigas sabia nadar, o que é estranho tendo uma praia tão boa, e rio, tão "perto".

mas a parte gira é a roupa que elas levam para a praia, as raparigas, os rapazes é fatos de banho normais, elas não, algumas têm fatos de banho, bikinis normais, mas mesmo essas e as que não têm, vai tudo ao banho de mini-saias, tops, e aquelas saias de pano... mesmo tendo os fatos de banho vestidos por baixo... que cena estranha. já tinha achado estranho, quando os miúdos aqui do centro iam à piscina, na volta virem sempre com os fatos de banho todos molhados por baixo da roupa, mas achei que era só da pressa de ir apanhar o machimbombo... já me fartei de gozar com eles mas continua a acontecer, por isso acabei por já desistir de comentar...

para além da roupa também tem alguma piada vê-los a banharem-se.
a praia é daquelas que faz um fundão logo quando se mergulha, ao fim de 2 ou 3 metros deixa-se de ter pé, e depois tem umas micro ondas tipo algarve, a rebentação é mesmo em cima da areia. então eles estão lá todos junta à areia, e atiram-se contra a onda de frente e depois levantam-se... faz-me lembrar os putos na praia, só que em tamanho grande.

é giro.

bem há montes mais de coisas que eu devia dizer ou podia escrever mas já estou cansado e a suar em bica...

a ver se não me esqueço de falar sobre uma escritora de cá, Paulina Chiziane, que ando a ler umas cenas dela que são engraçadas, para ajudar a perceber mais um bocado as coisas de cá, cultura e isso, já li dois livros, vou no terceiro e tenho ainda o quarto para ler.

outra das cenas tem a ver com a sida, vi um filme, "Beat The Drum", sul africano, que fala sobre a sida e o problema dos mitos à volta dela, é um filme um bocado chato, porque percebe-se mesmo que infelizmente por cá as coisas são mesmo como nos filmes, mas o pior é que não acabam bem, desde professores a trocar notas de alunas por sexo, aconteceu aqui em marracuene no ano passado, 80% dos alunos chumbaram, porque recusaram pagar aos professores para passar, o director da escola é que foi mudado de escola, os professores não lhes acontece nada. aos professores não acontece nada óbvio. então o negocio aqui era, alunas sexo e passavam, os rapazes, pagavam... houve montes de queixas e coisas do género e lá voltaram a rever exames e isso e depois passaram uns quantos.

bem mas estava a dizer, desde casos desses, a mitos como se os homens tiverem relações com virgens curam-se da Sida, etc... todas essas cenas de curandeiros e merdas do género existem mesmo... no outro dia estava a dar no telejornal o caso dum rapaz de 15 anos, que estava em estado grave internado porque tinham-lhe retirado os órgãos genitais para usar em rituais de magia... nice... isto foi numa província mais para norte de Moçambique, mas mesmo assim...

bem eu depois continuo que agora estou farto...

deixo só aqui mais uma nota sobre a marca de preservativos de nome jeito e alguns dos seus slogans publicitários que se vêm na rua.

pensa direito, anda com jeito.

quem tem jeito, dá sempre.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

... parte 5

hoje acabei por ter algum tempo, especialmente porque chove e não fui à piscina por estar constipado, a ver se digo mais qualquer coisa...

vou começar pelos putos, e o seu pretoguês... é no mínimo horrível a maior parte das vezes não percebo quando falam entre eles porque falam em dialecto, mas mesmo quando falam em português não se percebe nada. eu farto-me de gozar com eles e digo sempre, vamos falar em língua nacional ok? eles não dizem que falam em português é língua nacional...

mas isto não teria grande problema não fosse a maior parte das vezes nas aulas do inglês eles não saberem minimamente as palavras portuguesas que uso o que querem dizer... tem sido complicado, tenho-os metido a ler 3 textos que arranjei num livro para eles irem melhorando mas talvez não sejam os mais adequados para a realidade daqui... vou sacar agora da net a letra do "we are the world" do michael jackson acho eu, porque eles são todos fãs dele...

são fãs ao ponto de acharem que me vão ensinar a dançar uma das músicas dele... tem sido a comédia eles a tentarem, e eu especialmente... já lhes tentei explicar que este branco não tem "os moves"...


bem continuando e indo falar um bocado de marracuene ainda e o crescimento de maputo.

maputo tem crescido imenso, obviamente tudo desordenado e sem qualquer condições como é mais ou menos normal e espectável... se nem em portugal temos ordenamento decente eles aqui também não têm.
mas teoricamente o governo deles anda a distribuir parcelas de terrenos nos arredores de maputo, assim a 50 ou 60km para ver se leva o pessoal a fugir um bocado do caos do centro da cidade.
depois o caos é para entrar na cidade com o transito, de marracuene a maputo que são uns 30 kms, são 2 horas de machimbombo.

como estava a dizer eles estão a distribuir parcelas ao pessoal que se candidatar, parcelas de 800m2... nada mau, se fosse de cá quem sabe :P

moçambique em si não tem muitas cidades, as que tem é tudo no litoral, as maiores é maputo e beira. de resto é uma imensidão de espaço para aproveitar... faz-me lembrar aquelas imagens de safaris que se vê com aquelas árvores meio secas, mas o terreno não é totalmente seco... só faltam as girafas na paisagem...

indo de novo a marracuene, hoje estou meio desconexo no raciocínio, isto faz-me lembrar um bocado vila franca de xira... obviamente não tem cidade, é uma vila com umas 20 casas e o resto é bairros de barracas à volta, mas muito poucas barracas...

faz-me lembrar vila franca por causa da distância a maputo e a distância de vila franca a lisboa, e o facto de ter o rio mesmo ao lado, a todo o lado. é uma imagem bem bonita por acaso.

continuo é sem ainda ter ido à praia, mas já fui ao outro lado do rio... e é mesmo outro mundo.

talvez por isto ser hemisfério sul, só por curiosidade é a 1ª vez que venho ao hemisfério sul e a primeira vez que vi o oceano indico, por isso check and check.

mas como dizia, isto é hemisfério sul, e talvez por isso, as cenas são ao contrário... aqui a margem sul é claramente a parte mais rica da vila, que é o lado onde eu estou, passa-se o rio, de barco que não tem outra maneira, nos arredores não há qualquer ponte, ao contrário de vila franca, e a margem norte é o deserto... não há energia sequer. os habitantes de lá têm um bocado de culpa porque não querem uma ponte pois têm medo dos roubos de gado que iam acontecer dizem eles se houvesse ponte.

fazendo um pequeno apanhado, maputo fica numa espécie de baia, tendo 2 rios a desaguar lá, não sei o nome agora dos rios.
portanto a sul existe um que desagua e depois a norte temos o outro que é o que passa aqui em marracuene e vai desaguar um pouco a cima de maputo depois duma coisa chamada costa do sul que é a 24 julho / marginal cá do sitio a caminho de cascais :P

portanto atravessando o rio para norte, estamos no outro lado do rio e o outro lado do mundo. foi a primeira vez que vi aquelas casas mesmo de palha à lá filme.

peixe a secar nos estendais, pessoal pé descalço e a olhar pros carros como quem olha para uma nave ou um avião...

fui lá a primeira vez porque um dos padres ia dar uma missa lá a uma comunidade e eu pedi para ir com ele, tive de acordar bué cedo, tipo, às 6.30... são quase 1h de caminho ou mais.

anda-se mesmo um bocado e a estrada não é grande coisa é um cenário assim quase à rali mas divertido.

depois chegamos ao sitio, do qual não tenho mesmo imagens por agora, mas vou lá voltar nem que seja para tirar umas fotos.

chegando lá, 1º o sino a tocar, é uma lata pendurada numa árvore e o gajo bate-lhe com um pau.

depois começa a missa, não foi logo mas adiante, devo confessar que já não vou à igreja quase nunca, quando era miúdo ia às vezes, entretanto deixou de fazer sentido para mim, mas pronto estando aqui e sendo isto uma organização católica o mínimo a fazer é respeitar.

a missa começa e surpresa minha, não é em português, porque eles não falam português, como ia comprovar depois.

começa a missa e crianças e mulheres para um lado sentadas no chão sobre umas esteiras e homens, e eu, para outro sentar num banco... nice descriminação socialmente aceite, mais um check para a lista.

depois estava um grupo razoável de miúdos na missa, deviam estar umas 40 pessoas lá dentro, talvez uns 6 homens, 10 ou 11 mulheres o resto crianças.

epa e a missa é algo completamente diferente, para além de terem músicas mesmo com tambores e isso, à pessoal que se levanta, umas velhotas e um velhote, a meio da missa e vai fazer uma espécie de danças de chuva lá para o fundo da capelita... no meio das músicas que eles cantam... só visto mesmo.

estava a dizer, os miúdos, estavam quase todos a olhar para mim obviamente, este branco está perdido, e havia 2 ou 3 especialmente que olhavam e riam-se e desviavam o olhar, passei a missa quase toda a fazer essa espécie de jogo com eles, especialmente com 3 deles, o pedro um rapazito com 11 anos, que parecia-me a mim ter muito menos, talvez uns 7 ou 8, sou péssimo a avaliar idades, e duas miúdas mais pequenas, a adelaide e outra que não me disse o nome.
o meu objectivo era ver se conseguia meter os putos todos a sorrir-me só de olhar para eles e rir, tive uns 80% de aceitação :D

outro dos pormenores culturais engraçados, é os putos que andam ás cavalitas das mães e irmãos embrulhados nos trapos, que acho que se chamam capulanas.

é um meio de transporte engraçado e eles transportam assim tudo embrulhado às costas naquela espécie de lençol, mas é um bocado custoso ver umas crianças de 4 ou 5 anos a transportarem outras assim... e vêm-se mesmo muitos. aqui é mesmo filhos aos pontapés, 5 ou 6 para cada mulher... o pai não interessa qual é...

bem indo ao pedro, consegui falar um bocado com ele no fim da missa, dizia ele, a muito custo, porque nem percebeu a pergunta, que andava no 5º ano e tinha passado. como é que ele passou sem sequer entender o que eu digo, tendo que português é uma disciplina obrigatória não se sabe, mas siga.

falei com ele muito a custo consegui saber que se chamava pedro e tinha 11 anos, consegui também que me disse-se o nome da mais pequenina que era a adelaide, mas foi a amiga dela que me respondeu, só que depois fugiu a rir-se e não disse mais nada. o pedro no fim da missa e quando me estava a ir embora disse-me assim meio de fugida... "então até pro ano"... que nos meus ouvidos foi assim algo quase explosivo... fiquei um bocado emocionado mas nem sei explicar porquê, só que é complicado de explicar mesmo, mas ver aquela gente sem nada que a troco de nada estão disposto a trocar o maior dos sorrisos... adiante...

antes que me esqueça a adelaide tinha vestido um vestido daqueles que parece uma boneca princesas ou de carnaval de princesa... cor de rosa.

bem indo de volta para casa depois da missa, como costume local demos boleia a umas 3 ou 4 pessoas que iam para outra povoação, que na verdade deixamos assim um bocado no meio do nada, mas eram dali de perto.

quando deixamos essas pessoas, apareceram assim um grupo de miúdos a correr, a pedir boleia, falavam o dialecto por isso não os percebi muito bem, mas dava para ver que eles queriam vir a algum lado.

o padre falou com eles e com uma das mulheres que deixamos e ela disse para não os levarmos, eles não sabiam para onde queriam ir, depois disseram que só queriam ir para andar de carro... havia uns quantos que nunca tinham andado e só queriam mesmo andar. o padre disse que outro dia os levava, eu por mim obviamente tinha dado, mas compreendo a coisa e ele estava um bocado com pressa.

já me aconteceu o mesmo numa das voltas aqui de bicicleta pelas redondezas, miudinhos de 6 ou 7 anos que só queriam dar uma volta também... e lá vão todos contentes sentados no quadro da bicicleta por uns 2 ou 3 minutos.

à ida para a missa ainda, e voltando um bocado atrás, encontramos no meio da estrada, mesmo no meio, apesar da estrada não ser mais que um caminho de terra batida onde se anda devagar, um homenzinho sem pernas todo contente por nos ver.

o padre fez-me um recap rápido do porquê, então parece que o padre anterior que se tinha ido embora no dia antes para italia, depois de ter estado cá 9 anos, costuma levar-lhe farinha para dar aquele homem. ele era um jogador de futebol, jogava na 1ª divisão cá de moçambique e tudo, mas na guerra, perdeu as duas pernas. a guerra, e não sabia isto obviamente, passou-se sobretudo aqui nesta zona de marracuene, pois era a quase entrada para maputo pelo norte.

também foi uma coisa assim custosa de ver... o homem vive ali num bocado de chão com plástico no meio do nada...

bem mudando para algo mais engraçado...

fama show, ou o idolos cá do sitio...

tem sido a minha diversão de sábado à noite mais os miudos, eles vêm e eu vejo também.

o pessoal canta mal mas mal, mas todo o mundo se diverte, e tem mensagens a passar em rodapé de msgs que o pessoal manda tipo aqueles números do 3400...

para além dos erros de escrita dá para ver coisas lindas como os nomes e pessoas a enviarem mensagens para o marido, para o amante e para o filho do julio... isto tudo na mesma mensagem... muito à frente...

falando de telemóveis... uma das cenas what the fuck é que toda a gente tem telemóvel, qual portugal... prioridades obviamente...
o uso principal dos telemóveis é enviar pleases... que é os nossos call me, mas chamam-lhes pleases...

até naquela comunidade da missa no meio do nada, havia 3 pessoas que tinham telemóvel para falar com o padre a ver se vinha dar missa...

bem indo ao fama show, uma das cenas engraçadas, tem 2 gajas com nomes lindos, a grandiosa, de quem eu sou fã, e uma preta albina, que se chama argentina.

para além de cantar mal que doí, a argentina, apesar do juri amar a gaja... é a cena de ser albina... nunca tinha visto nenhum preto albino, alias albinos mesmo não devo ter visto mais de 2 ou 3, mas aqui há bués... mesmo mesmo muitos.

já vi uns 20 ou mais. é estranho o fenómeno...

outra das coisas que dá para ver assim a pontapé é mangas e mangueiras, a árvore das mangas.

nunca gostei de mangas, pois... aqui crescem em todo o lado e são tão mas tão boas... estou um fanático... como umas 2 ou 3 por dia. algumas mesmo acabadas de tirar das árvores :D e há mesmo árvores de manga em todo o lado.

é que são tão boas as mangas, e nada fibrosas como as que se compram nos supermercados, estou mesmo fã só de escrever está a dar-me vontade de ir apanhar uma e comer.

bem outra coisa das que me deixou mais emocionado quando me contaram a historia, e já fez algum tempo, foi na primeira vez que fui a casa da minha tia, mais o irmão responsável aqui do centro.

eles estavam a falar duns miudos, que vieram de mahotas, que é outro bairro dos arredores de maputo, onde a minha tia trabalhou durante anos e enviou aqui para o centro.

estavam a falar duma delas, que tal como estes 20 que aqui estão, os pais morreram de sida, a mãe pelo menos porque os pais alguns, como ela, não sabem sequer quem é o pai. ela tem cá 3 irmãos no centro e nenhum é do mesmo pai.

ok estavam a falar dela, e o facto dela e outros só terem ido para a escola quando chegaram ao centro, no caso dela com 14 anos...

mas chega ela com 14 anos, e esta foi a parte que me deixou assim meio... é o facto de ela não ter papeis de registo, ou seja não existe, ela e quase todos. teve de ir ser registada pelo irmão, e a questão que eu meti é, no caso dela sabiam o ano, os que não sabem, são registados com datas totalmente falsas, alguns até lhes tiram anos, para poderem entrar na escola devido aos problemas da idade.

no caso dela isso não aconteceu, mas o que me deixou um bocado emocionado, foi que sabiam o ano de nascimento dela, e o irmão chamou-a e disse-lhe que tinham da ir registar, ela não tem papeis porque não tem, a maior parte dos registos de nascimentos e isso desapareceu com a guerra. disse-lhe tinham da ir registar e sabiam o ano de nascimento dela.

o irmão virou-se para ela e disse, sabes o dia de anos, ela disse que não, então ele disse, olha estamos livres de "inventar" o dia que quiseres, não quero uma resposta agora, vai pensar bem e escolhe o dia que quiseres, dou alguma sugestão, o dia que chegaste aqui, o dia de anos da tua mãe, que sabiam, ou o dia da morte da tua mãe... eu a ouvir aquilo caiu-me tudo... pensar que é algo que tu sejas capaz de sugerir a uma criança, acabada de chegar a um sitio onde só conhece os meio irmãos, completamente sozinha. e mais wtf fico porque ela escolheu o dia que a mãe morreu, porque diz que é o dia que começou tudo de novo e é a ultima lembrança que tinha da mãe. é daquelas coisas que não se pensa muitas vezes mas se fica assim sem resposta...

bem numa nota de despedida assim mais positiva, nenhum dos putos daqui tem sida, não se sabe porquê mas não têm, no entanto o irmão diz que se um dia chegar um que tenha os aceita sem problemas, eles fazem-lhes os testes quando chegam mas não lhes dizem bem o que vão fazer, é só para controlo mesmo, há chegada dos miúdos pode acontecer bem terem.

bem por hoje já chega que tenho de ir apanhar a roupa antes que se molhe toda :P



quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

... parte 4

segunda 7 de dezembro de 2009.

tenho andado um bocado com pouca vontade de escrever porque dá demasiado trabalho e está demasiado calor.

eu explico a parte do dar demasiado trabalho que tem também a ver com o pequeno "milagre" do ipod não funcionar.

a parte do calor fala por si.

depois de frio e chuva na primeira semana, tem estado um tempo bué inconstante.

fica muito calor, e no dias que não há completamente vento nenhum vem sempre uma grande chuvada à noite e uma ventania desgraçada.
com grandes trovoadas e tudo mas sempre com calor. já deixou de haver frio. só está ou sol, ou tempo meio encoberto ou a chover mas sempre com calor.
é um tempo um bocado estranho.

este tempo, ou pelo menos a chuva, causa com que aqui seja raro o dia que não falha a energia.

se começa a chover ou um pouco mais de vento ou tempo encoberto a energia vai faltar.

nos primeiros dias o meu ipod deixou de funcionar e eu achei muito estranho mas passado 2 dias voltou a funcionar...
tudo normal portanto... tinha deixado de aceitar corrente a passou de novo a aceitar.

acontece que passado uns dias voltou a deixar de dar, e o meu computador também não funcionava...
estranho, porque havia energia no quarto... e na casa de banho também, apesar da água às vezes no banho estar fria.

achei estranho ser sempre depois de faltar a luz que isto acontecia, ou pelo menos achava eu que era depois de faltar a luz...
falei com o irmão e fui ao quadro de eletricidade ver e de facto as tomadas do meu quarto estavam num dijuntor qualquer que sempre que faltava a luz disparava e não voltava a cima.

achava eu que era quando faltava a luz porque nos outros dias comprovei que era quando lhe apetece e de momento deixou de todo de funcionar... por isso passei a só ter luz no quarto, as tomadas só funcionam no quarto ou lado, por isso para usar o pc, carregar o telemovel ou o ipod tenho de vir aqui...
daí ter pouca paciência para grandes escritas.

bem indo ao que interessa...

os ultimos tempos têm sido demais... completamente diferente isto aqui.

para além do inglês que lá continua de manhã todos os dias com os meus 6 putos, agora às 2ª, 4ª e 6ª os miudos do centro, ou 15 deles, vão à cidade ter natação porque não sabem nadar...
e para além do espetaculo à parte que é ir de transportes "publicos" à cidade, vê-los a aprender a nadar é assim qualquer coisa completamente surreal... confirma-se que preto não sabe nadar yo...

a imagem deles a aprender a nadar... impagavel... chegando lá, o professor que ia dar as aulas, perguntou quem não sabia nadar...

dos 14 que lá estavam naquele dia, 3 disseram que não sabiam nadar o resto, sei sei...

depois perguntou quem é que sabia nadar 4 ou 5 a medo lá disseram que sim.

então ele disse para irem para dentro de água nadar só para fazer um testezinho para ele ver...

os 2 primeiros nadavam mal, mas pronto "servia" pro que era... iam ter uma aula normal daquelas de iniciação.

tenho acabado por nadar eu com eles assim numas aulas mais livres.

depois destes 2 foi a vez de ver o espetáculo dos outros... só mesmo vendo, a violência com que espancavam, pontapeiam e esmurram a água... a quantidade de espuma gerada... lindo.

o pânico e força com que fazem todos aqueles movimentos... lá depois de 2 fazerem o teste, o 3º que é o gajo mais velho, amanda-se de cima da piscina para dentro de água para ir fazer o teste, mesmo para cima dum dos outros que fazia o teste, nadam um contra o outro numa violência que dá assim o choque mais caricato que já vi dentro de água...
o professor e o resto da gente toda a rir, lá os mandou parar e chegava de "testes" iam todos ter uma aula igual de quem não sabe mesmo nadar.

para além de andar na piscina tenho andado a dar umas voltas por maputo, e andar ali só com os miudos é espetacular... ser o único branco nos transportes publicos também é assim qualquer coisa, claro que eu acho piada porque não tenho de o fazer por obrigação, mas é assim no mínimo divertido...

para além das idas à cidade à mais uma data de coisas para contar que não dá muito bem para explicar por palavras... como o ir às terrinhas mais afastadas da cidade.

ando a planear uma ida ao kruguer park na africa do sul e uma ida também mais para o norte de moçambique, tenho saudades do meu carro, estar aqui sem transporte próprio é chato.

aqui por estes lados não se vê nada ou quase nada alusivo ao natal, por aí deve estar o pandemonio instalado já, como normalmente.

estou a ver se tenho tempo para meter algumas fotos.

para além disso ver se tenho tempo para falar do problema das idades deles e o facto da maior parte nem saber quando nasceu... se souberem o ano já não é mau.

já vi finalmente algumas camisolas do sporting, o porto continua a dominar no entanto, também vi do benfica mas só 2.

o gajo que dizem que vai para o sporting ninguém ouviu falar dele, alias quando perguntei por ele perguntaram-me em ar de brincadeira se o sporting estava sem dinheiro para vir comprar moçambicanos :P

outra das coisas é a sida que é assim algo que não está com nada. daqui a uns anos deve chegar aos 50% da população, agora os números oficiais dos censos de 2007 apontam para 30%

vou tentar ver se escrevo mais qualquer coisa mas por agora é isto...

beijinhos e abraços.