terça-feira, 22 de dezembro de 2009

... parte 6

bem não ando muito escritor, mais que a vontade de escrever que não é muita, a culpa tem sido do muito calor, que faz o estar sentado em frente ao computador um martírio mesmo grande, como também do facto de achar que as coisas só por palavras não terem assim grande impacto descritivo.

é que ficam sempre montes de coisas por contar e explicar e é meio frustrante.

ando aqui com umas ideias de fazer uns vídeos de certas coisas, mas depois só os posso meter online quando chegar a Lisboa, o mesmo com as fotos, que vou pondo algumas no facebook, mas não tenho tempo/paciência para replicar para aqui.

uma das coisas que não dá para descrever é a felicidade que as crianças têm a mexer nos "nossos" cabelos, mas não só nos cabelos como nos pêlos das pernas. é assim uma cena um bocado wierd quando se chega e passado um bocado de conversa para ganharem confiança os miúdos se decidem lançar num ataque aos cabelos...

a 1ª vez que me aconteceu foi numa coisa que eles têm aqui na paroquia de marracuene para entreter as crianças nas tardes de verão.

chama-se tardes de alegria, que são 3 semanas, onde basicamente se arranja umas actividades para as crianças se divertirem, do género, cantar, dançar, jogar à bola, etc.

eram 3 semanas temáticas cada uma com um tema sobre os direitos das crianças, a 1ª era o direito a ter uma família, a 2ª era ter direito a comer, a 3ª era ter direito a brincar.

bem continuando, estava lá a assistir aos miúdos a brincar, um concurso de dança neste caso, e estava sentado ao lado duns miúdos a conversar com um deles, mais naquela do como é que te chamas, etc.

ele estava a falar comigo e a passado um minuto assim sem dizer nada de estar só a olhar para mim, decide começar a mexer-me nos pêlos das pernas, normalmente o calor aqui é tanto que ando sempre de calções ou bermudas.

achei assim um bocado estranho mas o miúdo estava-se a rir eu ri-me também para ele e siga...

no dia seguinte também na mesma cena das tardes de alegria, o mesmo miúdo estava lá numa espécie de coreto, uma espécie de plataforma redonda com um muro a toda a volta e um tecto de palha que está destruído. ele estava sentado no muro, disse-me um adeus muito efusivo e eu aproximei-me dele só para dizer olá.

cheguei lá estava a dizer-lhe olá e aos amigos dele e encostei-me ao mundo para ficar a olhar para o resto dos miúdos que andavam por lá a correr e a saltar.

passado uns segundos ele com a maior das felicidades do mundo, e também o maior dos sorrisos, decide lançar-se num ataque aos meus cabelos, bem com as duas mãos e braços abertos... como já me tinham falado de tal coisa, quando isto me aconteceu comecei-me a rir bué, ia-me desmanchando a rir, mas estava a tentar controlar a coisa. quando eu me começo a rir, os amigos dele que estavam por lá ao lado acharam que se eu me estava a rir tudo bem e decidem ir todos mexer no meu cabelo... cena wierd, estavam lá umas 6 ou 7 crianças a mexer-me no cabelo... não me estava a fazer muita confusão mas também não é nada muito confortável, mas antes que aquilo começasse a tomar circunstâncias drásticas, do género uns 20 miúdos a amontoarem-se para andar a mexer no teu cabelo, comecei a dispersa-los, mas a rir-me e a dizer para eles irem para as actividades, jogar à bola, correr, dançar, saltar, etc.

para já que sendo o único branco já sou por norma o centro das atenções, não preciso de ainda mais cenas para gerar confusão e é suposto eles estarem ali para se divertirem uns com os outros.

mas pronto é mesmo uma diversão enorme para eles mexer nos cabelos, e confesso que eu também me divirto às vezes a mexer nos deles, parece assim uma espécie de esponja...

não houve dia que eu fosse lá à cena das tardes que passado um bocado de lhes dizer uns olás, como te chamas, etc, não houvesse um ou outro que não começa-se a mexer no cabelo. acaba por ser uma coisa que nos habituamos. e enquanto são 2 ou 3 de cada vez não é nada demais.

a parte engraçada é que isto fez com que cada vez que eu atravesso ali uma zona de quem vem da vila para o centro, antes de chegar na igreja, passo assim por uma rua interior mesmo no meio do bairro, e não tem dia que eu passe lá pelas 6 ou 7, quando venho da piscina à tarde, que não tenha 2 ou 3 miúdos a dizer: "olá Miguel, olá..." a maior parte deles eu nem me lembro de os ver lá, mas diz-se sempre olá e sorri-se que eles ficam todos contentes, mais contentes ficam se souberes o nome deles.

é divertido, e tem piada que eles fixam mesmo as cenas, o miúdo da cena dos pelos das pernas, o Xandino, não sei se se escreve assim, a das primeiras coisas que me perguntou foi, "o lucas?" ao que eu respondi, não sei, eu não conheço o Lucas, e ele disse-me pois foi para longe foi para a Itália, vim a descobrir que o Lucas era um jovem italiano que esteve cá, mais ou menos como eu, há uns 2 anos atrás, o Xandino deve ter uns 6 anos, logo teria uns 4 na altura mas ainda se lembra dele...

para além das tardes de alegria outras das coisas engraçadas que aconteceu foi a ida à praia de Macaneta, onde para não variar apanhei um dos maiores escaldões como já não apanhava há muito, felizmente nas costas não foi muito, foi mais na cara e orelhas. obviamente esqueci-me de trazer creme protector.

mas começa-mos por ir para a praia, teoricamente às 8 da manhã, ia com o conjunto dos monitores das tardes de alegria, um deles perguntou-me se eu queria ir com eles e eu disse logo que sim... praia bora...

portanto às 8 lá estava eu... eles herdaram o belo costume português de chegar atrasado, o nosso transporte só chegou às 9 e tal.

éramos 30 e ia-mos todos num carro, na parte de trás duma pickup... como para ir até à praia são uns kilometros e tem de se atravessar o batelão, que é um barco +- quadrado que leva a malta dum lado ao outro do rio.

como para ir até ao rio dá para ir a pé, eu e mais alguns fomos a pé, porque a carrinha estava demasiado cheia.

depois de esperar algum tempo para atravessar, porque faz filas que são muitos carros a querer passar e só cabem 5 a 6 de cada vez.

atravessamos e chegando ao outro lado reparamos que uma rapariga tinha ficado para trás, tínhamos de esperar que o barco fosse de novo lá e voltasse... que ia levar uns 30 minutos pelo menos. aqui tudo é muito muito lento...

o condutor do carro disse que já que éramos muitos ele ia levando as raparigas 1º... eu sinceramente ainda disse, é melhor não, ou na brincadeira disse para ele levar alguns rapazes e algumas raparigas, do género, e disse mesmo isto, se ele leva as gajas todas já não volta...

acabaram por ir 2 rapazes com as raparigas e ficamos uns 10 rapazes para trás e duas raparigas, a que estava ainda a esperar o barco e outra que não foi no carro porque não foi.

a estrada para a praia é muito má, mas ao fim de esperar-mos quase uns 10 minutos depois do barco chegar, decidimos ir a caminho e apanhar a boleia algures quando tivessem no percurso de regresso, ao fim de andar-mos bem mais de metade do caminho, quase 1h, aparece o nosso transporte, tinha ficado lá à espera de ter gente para trazer a carrinha cheia até ao barco... ainda ia ao barco descarregar e depois voltar... conclusão andamos o caminho até à praia quase todo, que são 7km... chegámos à praia, ainda depois de andar um terço do caminho +- de carro na boleia, pelas 12h+-

sinceramente se eu soubesse o que aí vinha no tempo que fomos de carro tinha ido o resto a pé, é que a estrada é toda de terra batida e aos buracos, ir no pickup sentado de lado na caixa com tanto solavanco fiquei com umas dores no rabo que nem vos conto...

mas chegado à praia tudo passou, para já porque assim que começamos a subir a duna, que dá para a praia, que tem uns arbusto, começo a ouvir um barulho bué estranho nos arbustos, eram macacos... existem macacos na praia, mas não se deixam muito bem ver muito menos chegar perto, fogem logo para o meu dos arbustos... mas pronto tem macacos a praia :P

e depois a praia é muito bonita, nada fora de normal no entanto mas bonita principalmente porque é muito vasta e não tem ainda muitas coisas, só algumas consturçõezinhas duns sul africanos.

nota: existem praias mais para norte de moçambique totalmente pertencentes a sul africanos, ao que eles chamam boers, não sei se se escreve assim, ainda com sinais e cenas a dizer "no blacks"... eu perguntei como é que o governo de moçambique aceita isso e os gajos só me souberam dizer porque sim, os gajos, seja os rapazes que estavam comigo na praia de macaneta, que eram eles que me estavam a contar a cena, mas o meu avô também já testemunhou tal coisa, eu vou tentar ver se lá vou qualquer dia.

bem voltando à praia, rio dum lado, oceano do outro, gira.

os padres tinham-me falado que a água era fria, portanto assim que cheguei à praia fui ao banho que estava cheio de calor, mas fiquei naquela... se é fria é melhor mergulhar logo para não estranhar muito... vou logo a correr entro dentro de água e semi desilusão... a água fez-me lembrar a Tunísia... super quente... e ainda por cima bué salgada... mas estava-se muito bem... tive a maior parte do tempo todo até ao almoço, que deve ter sido 1h +- na minha diversão areia/água/areia outra vez.

a areia é assim meio grossa mas não muito, é difícil de explicar, não é totalmente fininha como quem conhece no Baleal por exemplo, mas também não é assim como se fosse a da Ericeira...

a parte mais gira do ir à praia, foi 1º o facto de comprovar que metade das gentes aqui não sabe nadar, dos que foram comigo só 5 rapazes sabiam e nenhuma das raparigas sabia nadar, o que é estranho tendo uma praia tão boa, e rio, tão "perto".

mas a parte gira é a roupa que elas levam para a praia, as raparigas, os rapazes é fatos de banho normais, elas não, algumas têm fatos de banho, bikinis normais, mas mesmo essas e as que não têm, vai tudo ao banho de mini-saias, tops, e aquelas saias de pano... mesmo tendo os fatos de banho vestidos por baixo... que cena estranha. já tinha achado estranho, quando os miúdos aqui do centro iam à piscina, na volta virem sempre com os fatos de banho todos molhados por baixo da roupa, mas achei que era só da pressa de ir apanhar o machimbombo... já me fartei de gozar com eles mas continua a acontecer, por isso acabei por já desistir de comentar...

para além da roupa também tem alguma piada vê-los a banharem-se.
a praia é daquelas que faz um fundão logo quando se mergulha, ao fim de 2 ou 3 metros deixa-se de ter pé, e depois tem umas micro ondas tipo algarve, a rebentação é mesmo em cima da areia. então eles estão lá todos junta à areia, e atiram-se contra a onda de frente e depois levantam-se... faz-me lembrar os putos na praia, só que em tamanho grande.

é giro.

bem há montes mais de coisas que eu devia dizer ou podia escrever mas já estou cansado e a suar em bica...

a ver se não me esqueço de falar sobre uma escritora de cá, Paulina Chiziane, que ando a ler umas cenas dela que são engraçadas, para ajudar a perceber mais um bocado as coisas de cá, cultura e isso, já li dois livros, vou no terceiro e tenho ainda o quarto para ler.

outra das cenas tem a ver com a sida, vi um filme, "Beat The Drum", sul africano, que fala sobre a sida e o problema dos mitos à volta dela, é um filme um bocado chato, porque percebe-se mesmo que infelizmente por cá as coisas são mesmo como nos filmes, mas o pior é que não acabam bem, desde professores a trocar notas de alunas por sexo, aconteceu aqui em marracuene no ano passado, 80% dos alunos chumbaram, porque recusaram pagar aos professores para passar, o director da escola é que foi mudado de escola, os professores não lhes acontece nada. aos professores não acontece nada óbvio. então o negocio aqui era, alunas sexo e passavam, os rapazes, pagavam... houve montes de queixas e coisas do género e lá voltaram a rever exames e isso e depois passaram uns quantos.

bem mas estava a dizer, desde casos desses, a mitos como se os homens tiverem relações com virgens curam-se da Sida, etc... todas essas cenas de curandeiros e merdas do género existem mesmo... no outro dia estava a dar no telejornal o caso dum rapaz de 15 anos, que estava em estado grave internado porque tinham-lhe retirado os órgãos genitais para usar em rituais de magia... nice... isto foi numa província mais para norte de Moçambique, mas mesmo assim...

bem eu depois continuo que agora estou farto...

deixo só aqui mais uma nota sobre a marca de preservativos de nome jeito e alguns dos seus slogans publicitários que se vêm na rua.

pensa direito, anda com jeito.

quem tem jeito, dá sempre.

2 comentários:

  1. Bruto filme, chavalo.

    Vou picando o ponto aqui sempre que possível para ir acompanhando este teu diário virtual.

    Abraço, pá.

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  2. Costa :) é bom ir sabendo notícias tuas pah! espero q o natal tenha sido bacano :P
    beijinhos

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